Neste início de ano de lectivo registou-se no ensino superior o segundo maior contingente de alunos colocados o que é de sublinhar. No entanto, verificou-se que 10% dos alunos colocados não se inscreveram.
Este período também tem sido marcado
pela enorme dificuldade criada no alojamento a alunos deslocados,
designadamente, em Lisboa e Porto, mas não só. O cenário é de falta de oferta, o
mercado turístico é mais atractivo, e pela exorbitância dos preços.
É também sabido que atravessamos
um período muito duro para as famílias com impacto significativo em termos
económicos pelo que podemos falar de “tempestade perfeita”.
Também sabemos que o abandono
escolar no final do 1º ano no ensino superior aumentou em 20/21. Dos alunos que
ingressaram num curso técnico superior, 24,4% tinham abandonado no final do
primeiro ano face a 18,7% no ano anterior. Nas licenciaturas passou de 9,1%
para 10,8%.
Todo este contexto vem mostrar que, apesar da qualificação ser um bem de primeira necessidade e um
forte contributo para projectos de vida bem-sucedidos, existe uma questão de
natureza estrutural, estudar no ensino superior é muito caro em Portugal. A recente alteração do regulamento de atribuição de bolsas não minimizou
esta situação.
Algumas notas começando por
alguns dados que já aqui tenho citado.
De acordo com Relatório do CNE,
"Estado da Educação 2019", a percentagem de alunos que em Portugal
acede a bolsas de estudo para o 1º ciclo está no segundo escalão mais baixo da
análise, entre 10 e 24,9%. Para comparação, Irlanda, Países Baixos estão no
intervalo entre 25% e 49,9% e a Suécia no superior a 75%. Países como Espanha,
França, Reino Unido e muitos outros têm percentagens de alunos com apoio
superiores a nós e, sem estranheza, também maior nível de qualificação.
Em 2018 foi divulgado um estudo
já aqui citado, “O Custo dos Estudantes no Ensino Superior Português” da
responsabilidade do Instituto de Educação da U. de Lisboa, relativo ao ano
lectivo de 2015/2016 mostrando que cada estudante universitário gastou em média
6445€ em despesas como propinas, material escolar, alojamento ou alimentação.
Os alunos de instituições universitárias privadas têm uma despesa perto dos
10000€ e nos politécnicos privados o custo será de 8296€. De facto, sendo a
qualificação superior um bem de primeira necessidade para os cidadãos e para o
país, é um bem muito caro, demasiado caro para muitas famílias e indivíduos.
Estudos comparativos
internacionais, “Social and Economic Conditions of Student Life in Europe”, por
exemplo, também mostram que as famílias portuguesas são das que suportam uma
fatia maior dos custos de frequência do superior sendo que ainda se verifica
uma forte associação entre a frequência do ensino superior e nível de
escolarização e estatuto económico das famílias.
Apesar de um abaixamento do valor
as propinas no ensino público, as dificuldades sentidas por muitos estudantes
do ensino superior e respectivas famílias, quer no sistema público, quer no
sistema privado com valores bem mais altos de propinas, são, do meu ponto de
vista, consideradas frequentemente de forma ligeira ou mesmo desvalorizadas.
Tal entendimento parece assentar na ideia de que a formação de nível superior é
um luxo, um bem supérfluo pelo que ... quem não tem dinheiro não tem vícios.
A qualificação é a melhor forma
de promover desenvolvimento e cidadania de qualidade pelo que apesar de ser um
bem caro é imprescindível.
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