Com o fim das férias e o início das aulas a chegar, mais novos e mais velhos começam a retomar as suas rotinas. Algumas notas a propósito de rotinas e comportamentos.
Como muitas vezes aqui tenho referido preocupa-me que em
muitos contextos familiares as crianças cresçam com alguma dificuldade de
regulação e, sobretudo, auto-regulação dos seus comportamentos. Esta situação
traduz-se na forma como se comportam nos diferentes espaços nos quais passam os
dias, sobretudo em casa e na escola.
Como também já aqui tenho partilhado, em muitos diálogos com
pais transparece alguma dificuldade, por várias razões, na definição de regras
e limites que com bom senso e flexibilidade são imprescindíveis como
organizadores do comportamento dos miúdos.
Para além disso, de há uns tempos para cá começou a
registar-se em muitos pais um discurso crítico das rotinas que, naturalmente, é
decorrente da forma como olham para a sua vida e das suas crenças e
representações. Começaram a ouvir-se afirmações no sentido de combater a
instalação de rotinas por oposição à importância da criatividade, da inovação,
da não repetição sistemática de comportamentos ou procedimentos, etc.
A questão é que, do meu ponto de vista este entendimento,
assenta no enorme equívoco de entender que dimensões que estes pais e, creio, a
maioria de nós, considera importantes como criatividade e inovação, por
exemplo, seriam incompatíveis com a instalação de rotinas, elas próprias também
essenciais ao desenvolvimento e funcionamento das crianças devido,
fundamentalmente, à sua função reguladora e organizativa. O resultado em muitas
circunstâncias e contextos educativos, familiares ou mais formais era, é, um
funcionamento desregulado, desorganizado e sem regras.
Entre os adultos o equívoco está ainda presente de forma mais
nítida. Ouve-se com alguma frequência a afirmação de se ser contra as rotinas
como forma de emancipação intelectual e social pelo que, “são contra” as
rotinas.
Tal como nos miúdos, as rotinas cumprem funções fundamentais
na nossa organização e funcionamento. A sua existência organiza-nos e,
curiosamente, até acontece com frequência que é sua existência que nos permite
“libertar” disponibilidade para outras direcções. Como é óbvio, nada desta
conversa contraria a importância que na nossa vida tem o lado do imprevisto, da
mudança, da criatividade ou da quebra das rotinas. Também não tem a ver com a
defesa de um funcionamento obsessivamente estruturado, que corre o sério risco
de se desorganizar quando algum pormenor de rotina se altera.
Mas é preciso insistir, as crianças precisam de ter o seu
dia a dia com rotinas estabilizadas e reguladoras como, sono, refeições, banho,
comunicação/relação com os pais, tarefas, etc.
São um bem de primeira necessidade.
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