sábado, 17 de setembro de 2022

DA POBREZA

 Segundo dados divulgados pelo Eurostat relativos a 2021, o índice de pobreza subiu na UE em termos médios, sendo que em Portugal a subida foi maior, afecta cerca de 2,3 milhões de pessoas, mais 2,4% que em 2020, e acima da média europeia, 21,7%.

Conforme trabalho no Expresso e de forma mais diferenciada, sem surpresa, a pobreza afecta mais as famílias com crianças, a população menos escolarizada e mulheres. Considerando a população em situação de pobreza, 22,9% são crianças e 24,25 têm entre 18 e 24 (justamente a idade de frequência do ensino superior ou a entrada no mercado de trabalho). Portugal foi o país em que a situação mais se agravou descendo cinco lugares na ordenação realizada.

Com a situação que actualmente atravessamos e não esperando alterações substantivas nos tempos mais próximos as circunstâncias de vida para boa parte da população são dramáticas mesmo para muitas pessoas que trabalham e não conseguem sair da pobreza.

Também sabemos que a pobreza tem claramente uma dimensão estrutural e intergeracional, de acordo com vários estudos, as crianças de famílias pobres demorarão até cinco gerações a aceder a rendimentos médios, um indicador acima da média europeia.

A escola é certamente uma ferramenta poderosa de promoção de mobilidade social, mas, por si só, dificilmente funciona como elevador social.

O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças, em particular no rendimento escolar e comportamento, é por demais conhecido. Essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas, incluindo bem-estar psicológico e emocional. Em qualquer parte do mundo, miúdos que passam mal têm menor desempenho escolar e mais provavelmente vão continuar pobres. Com ligeiras alterações as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação vão-se mantendo. Não estranhamos. Dói, mas é “normal”, será o destino.

É verdade que com muita frequência a escola distribui refeições e disponibiliza recursos a alunos mais carenciados e ainda bem que o faz. No entanto, não compete à escola a resolução de questões estruturais nas quais radica a pobreza continuada nem o providenciar de necessidades básicas às crianças.

Assim, ou nos concertamos na exigência a alterações nos modelos de desenvolvimento de modo a garantir, tanto quanto possível, equidade e um combate eficaz à exclusão com a consequente alteração nas políticas públicas, ou ciclicamente nos confrontamos com indicadores desta natureza. Os dias que vivemos mostram como e difícil é concertar perspectivas na promoção de um sentido comum, o bem-estar das comunidades.

Não, não é destino que os filhos dos filhos dos filhos, dos filhos das famílias pobres continuem pobres. Se assim acontece e continuar a acontecer é a falência das políticas públicas e dos que por elas são responsáveis.

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