Segundo dados divulgados pelo Eurostat relativos a 2021, o índice de pobreza subiu na UE em termos médios, sendo que em Portugal a subida foi maior, afecta cerca de 2,3 milhões de pessoas, mais 2,4% que em 2020, e acima da média europeia, 21,7%.
Conforme trabalho no Expresso e
de forma mais diferenciada, sem surpresa, a pobreza afecta mais as famílias com
crianças, a população menos escolarizada e mulheres. Considerando a população em situação
de pobreza, 22,9% são crianças e 24,25 têm entre 18 e 24 (justamente a idade de
frequência do ensino superior ou a entrada no mercado de trabalho). Portugal
foi o país em que a situação mais se agravou descendo cinco lugares na ordenação
realizada.
Com a situação que actualmente
atravessamos e não esperando alterações substantivas nos tempos mais próximos as
circunstâncias de vida para boa parte da população são dramáticas mesmo para muitas
pessoas que trabalham e não conseguem sair da pobreza.
Também sabemos que a pobreza tem
claramente uma dimensão estrutural e intergeracional, de acordo com vários
estudos, as crianças de famílias pobres demorarão até cinco gerações a aceder a
rendimentos médios, um indicador acima da média europeia.
A escola é certamente uma
ferramenta poderosa de promoção de mobilidade social, mas, por si só,
dificilmente funciona como elevador social.
O impacto das circunstâncias de
vida no bem-estar das crianças, em particular no rendimento escolar e
comportamento, é por demais conhecido. Essas circunstâncias constituem, aliás,
um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são
particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível
das necessidades básicas, incluindo bem-estar psicológico e emocional. Em qualquer parte do mundo, miúdos que passam mal têm
menor desempenho escolar e mais provavelmente vão continuar pobres. Com
ligeiras alterações as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e
incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação vão-se
mantendo. Não estranhamos. Dói, mas é “normal”, será o destino.
É verdade que com muita
frequência a escola distribui refeições e disponibiliza recursos a alunos mais
carenciados e ainda bem que o faz. No entanto, não compete à escola a resolução
de questões estruturais nas quais radica a pobreza continuada nem o
providenciar de necessidades básicas às crianças.
Assim, ou nos concertamos na
exigência a alterações nos modelos de desenvolvimento de modo a garantir, tanto
quanto possível, equidade e um combate eficaz à exclusão com a consequente
alteração nas políticas públicas, ou ciclicamente nos confrontamos com
indicadores desta natureza. Os dias que vivemos mostram como e difícil é
concertar perspectivas na promoção de um sentido comum, o bem-estar das
comunidades.
Não, não é destino que os filhos
dos filhos dos filhos, dos filhos das famílias pobres continuem pobres. Se
assim acontece e continuar a acontecer é a falência das políticas públicas e
dos que por elas são responsáveis.
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