À semelhança do que acontece em muitos países, também a Igreja em Portugal se tem vindo a mostrar inaceitavelmente tolerante com casos comprovados de abusos sexuais de crianças ou adolescentes por parte de membros do clero ou de instituições sob sua tutela. As queixas e denúncias têm sido recorrentes como recorrentes são os arquivamentos por razões processuais e formais, não porque se tenha provado que não existiram abusos. Em alguns casos, no limite, a hierarquia da igreja “deslocalizou” os sacerdotes envolvidos mantendo-os em funções ou num discreto retiro sem qualquer procedimento mais significativo, .
Recordo que há já alguns anos o
então bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, afirmar que a Igreja está
"atrasada" e não presta atenção às "transformações do
mundo".
Na verdade, D. Manuel Martins tinha
razão, a reconhecida perda de influência da Igreja, sobretudo nos países mais
desenvolvidos, deve-se também ao seu imobilismo, à forma conservadora como não
reage às óbvias mudanças sociais, políticas, económicas e culturais sustentando
um progressivo afastamento da vida das pessoas, como reconhecia D. Manuel
Martins e, acrescento eu, a comportamentos como os que tem adoptado face a sucessivas
noticias de abusos por parte de membros do clero ou praticados em instituições
religiosas marcado por encobrimento, compra do silêncio das vítimas e
negligência. É verdade que foi criada a Comissão Independente para o Estudo dos
Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa cujos resultados
aguardamos.
Um dia, talvez a instituição
Igreja aceite e perceba a necessidade de mudança no discurso sobre a
anti-concepção, o casamento, o celibato dos padres, a abertura do sacerdócio às
mulheres, a ostentação visível em parte da hierarquia da igreja, na necessidade
de manter transparência e rigor face a comportamentos que para além do sofrimento
das vítimas também acabam por penalizar a própria Igreja, etc.
Enquanto assim não for, talvez a
simpatia e as boas intenções e dscursos do Papa Francisco não sejam suficiente para esbater uma ideia de
“públicas virtudes, vícios privados” que não sendo, evidentemente,
generalizável, também não pode ser tolerada.
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