Retomemos o recente relatório da OCDE, “Education at a Glance 2022”. Em continuidade com estudos anteriores, em Portugal o nível de qualificação dos cidadãos que, registe-se, tem vindo a aumentar, reflecte-se positivamente no estatuto salarial e no emprego.
Considerando dados de 2020, as pessoas entre os 25 e os 64
anos com formação ao nível do secundário recebiam em média 25% a mais que os indivíduos
que não ultrapassaram o 3º ciclo.
Se considerarmos a formação de nível superior, a diferença é
mais do dobro e ligeiramente acima da média da OCDE.
No que respeita ao emprego, em 2021 a taxa de emprego na idade
entre 25 e 34 era 14% mais alta relativamente a cidadãos como 3º ciclo e 5% face
ao secundário. Esta diferença acentua-se no caso das mulheres.
Estes dados são mais um contributo uma questão que muitas
vezes é tratada com alguns equívocos.
O primeiro, radica no discurso recorrentemente difundido,
ampliado por alguma imprensa preguiçosa, de que, dada a enorme taxa de
desemprego de jovens com qualificação superior, o investimento numa
qualificação superior não compensa pois não existe mercado de trabalho, alguns
empregos que surgem são precários e mal pagos e muita gente qualificada está a
ser empurrada para fora por falta de futuro cá.
Um outro equívoco remete para o estatuto salarial. Apesar da
política de proletarização do mercado de trabalho, da precariedade e do manhoso
recurso a estágios, nem sempre remunerados ou seguidos de emprego, a formação
superior ainda compensa.
É claro que não podemos esquecer o nível ainda significativo
de desemprego entre os jovens, em particular entre os jovens com qualificação
superior, obrigando tantos a partir à procura de um futuro que por cá não
vislumbram, mas esta questão decorre do baixo nível de desenvolvimento do nosso
mercado de trabalho, de circunstâncias conjunturais e de erradas políticas de
emprego e não da sua qualificação.
Conseguir níveis de qualificação compensa sempre e é
imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível superior compensa
ainda mais.
Portugal não tem gente qualificada a mais, tem é desenvolvimento
a menos. Não podemos acolher a mensagem de que a qualificação não é uma
mais-valia. É um tiro no pé.
No entanto, também neste relatório se constata que Portugal
é um dos países que menos investe no ensino superior, ou seja, no futuro.
Com dados de 2019 e com o cálculo equiparado ao poder de
compra, Portugal investe 11858 dólares por aluno no superior, sendo que a média
na OCDE é de 17559. Só a Grécia e a Lituânia investem menos no espaço europeu.
Neste cenário, e conforme diferentes estudos comprovam, "Social
and Economic Conditions of Student Life in Europe” é um exemplo, as famílias portuguesas são
das que suportam uma fatia maior dos custos de frequência do superior sendo que
ainda se verifica uma forte associação entre a frequência do ensino superior e
nível de escolarização e estatuto económico das famílias. Este ano tem estado particularmente
em foco a questão do alojamento para estudantes deslocados que atinge preços incomportáveis
associados a uma oferta insuficiente.
Apesar de um abaixamento do valor as propinas no ensino
público, as dificuldades sentidas por muitos estudantes do ensino superior e
respectivas famílias, quer no sistema público, quer no sistema privado com
valores bem mais altos de propinas, são, do meu ponto de vista, consideradas
frequentemente de forma ligeira ou mesmo desvalorizadas. Tal entendimento parece
assentar na ideia de que a formação de nível superior é um luxo, um bem
supérfluo pelo que ... quem não tem dinheiro não tem vícios.
A qualificação é a melhor forma de promover desenvolvimento
e cidadania de qualidade pelo que apesar de ser um bem caro é imprescindível. E
voltamos à questão do investimento.
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