No Expresso encontra-se uma peça dedicada ao trabalho de mentoria realizado por jovens com licenciatura em diferentes áreas em escolas de contextos mais desfavorecidos com um número significativo de alunos no escalão A da Acção Social Escolar. O trabalho é desenvolvido no âmbito da actividade da organização Teach For Portugal que iniciou o seu trabalho em 2019 e sobre o qual aqui escrevi na altura.
Actualmente a TFT tem 46 mentores colocados em 31 escolas envolvendo
23 municípios e apoiando cerca de 4 000 alunos.
A TFT, com o apoio de diferentes entidades, fundamentalmente
autarquias, assegura o recrutamento, formação e colocação paga dos mentores que
trabalham em sala de aula com os professores, apoiam os alunos e desenvolvem
algum trabalham com as famílias.
Em 2021 foram divulgados alguns resultados que no 2º e 3º
ciclos foram positivos e menos significativos no 1º ciclo.
Para o próximo ano a organização TFT pretende contratar mais
40 jovens licenciados para o trabalho de mentoria nas escolas. O rumo parece,
assim, alinhado com a alteração das habilitações exigidas para o trabalho com
alunos em sala de aula.
Como é evidente, registo todas as iniciativas que possam
contribuir para minimizar ou erradicar problemas, mas já me falta convicção no
impacto do modelo mais habitualmente seguido.
Para cada constrangimento ou dificuldade percebida nas e
pelas escolas e com regularidade, aparece vindo de fora ou gerido de fora, um
Plano, um Projecto, um Programa, uma Iniciativa, as combinações são múltiplas,
destinado a essa problemática.
Durante as últimas décadas, perco a conta a planos,
projectos, programas, experiências inovadoras que chegaram e chegam às escolas para
combater o insucesso ou, pela positiva, promover o sucesso, promover a leitura
e escrita, promover a matemática, promover a educação científica, promover a
educação inclusiva, a aprendizagem emocional, erradicar ou minimizar o bullying, a relação entre escola e
pais e encarregados de educação, promover a expressão artística e a
criatividade, promover comportamentos saudáveis e actividades desportivas,
literacia financeira, promover a inovação e as novas tecnologias, para não
falar de iniciativas mais "alternativas", por assim dizer, e que têm
poderes mágicos, parece. A lista enunciada é apenas exemplificativa e não está em causa a pertinência ou juízo sobre as dimensões citadas, trata-se do modelo de abordagem..
Com demasiada frequência muitos destes projectos vêm de fora
das escolas, as origens são variadas, não chegam a envolver a gente das
escolas, esmagada pelo trabalho, burocracia e outros constrangimentos como, por
exemplo, assegurar da melhor forma possível o dia-a-dia do trabalho educativo
que tem de ser realizado.
Também com demasiada frequência muitos destes projectos
morrem de “morta matada” ou de “morte morrida”, não são avaliados de forma
robusta e dão umas fotografias ou vídeos que compõem o portfólio dos
organizadores e proporcionam uma experiência que se deseja positiva aos
intervenientes no tempo que durou, mas sem mais impacto.
Todavia, preciso de afirmar que muitos destes Planos,
Projectos, Inovações, etc. dão origem a trabalhos notáveis que, também com
frequência, não têm a divulgação e reconhecimento que todos os envolvidos
mereceriam.
Também demasiadas vezes estas iniciativas consomem recursos
com baixo retorno e ao serviço de múltiplas agendas.
Ponto.
Tenho para mim, que não podendo a escola responder a todas
as questões que afectam quem nelas passa o dia poderia, ainda assim, fazer mais
se os investimentos feitos no mundo à volta da escola e que lhe vem bater à
porta com propostas fossem canalizados para as escolas.
Com real autonomia, com mais recursos e com modelos
organizativos mais adequados as escolas poderiam fazer certamente mais e melhor
que quem vem de fora numa passagem transitória, mais ou menos longa, mas
transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de escrutínio, regulação e
avaliação também externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares, auxiliares informados e
formados podem ter um papel importante em diferentes domínios.
Directores de turma com mais tempo para os alunos e menos
burocracia poderiam desenvolver trabalho útil em múltiplos aspectos do
comportamento e da aprendizagem.
Psicólogos e outros técnicos em número mais adequado, o que
se verifica é inaceitável, poderiam acompanhar, promover e desenvolver
múltiplas acções de apoio a alunos, professores, técnicos e pais.
Mediadores que promovessem iniciativas no âmbito da relação
entre escola, pais e comunidade seriam, a experiência mostra-o, um investimento
com retorno.
São apenas alguns exemplos de respostas com resultados
potenciais com um custo que talvez não seja superior aos custos de tantos
Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras destinadas a múltiplas
matérias e com custos associados de “produção” que já me têm embaraçado, mas a
verdade é que as agendas e o marketing têm custos.
Ainda este propósito, ficar embaraçado, volto a contar uma
experiência pessoal.
Há largos anos estava na altura na Direcção-Geral do Ensino
Básico e foi-me pedido que apresentasse numa escola do 1º ciclo um Projecto em
desenvolvimento pela Direcção-Geral destinado ao ensino de português a crianças
de famílias oriundas dos PALOP que aprendiam em português na escola e falavam
crioulo em casa. Apresentei o Projecto o melhor que fui capaz aos professores
da escola e no fim alguém me disse de uma forma muito simpática, “Colega, o
Projecto é muito interessante, mas sabe, já temos 24 Projectos na escola, não
podemos fazer mais.”
Na verdade, a Projectite, sobretudo vinda de fora, é uma
opção com pouco potencial apesar, insisto, das boas experiências que também
conheço.
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