domingo, 2 de outubro de 2022

OS PAPAGAIOS DE PAPEL, LEMBRAM-SE?

 Há pouco saí de casa para dar uma volta aqui pelo bairro e ao passar numa zona relvada vi algo que creio já não ver há algum tempo, um gaiato tentava com a ajuda do pai fazer voar um papagaio. Como acho que frequentemente acontece com os velhos dei por mim a andar para trás no tempo.

Vejo poucas vezes miúdos nesta actividade apesar de os papagaios de agora se comprarem feitos, terem um ar sofisticado, cheio de cores, e de maior facilidade no voo como o do miúdo que vi. Talvez os miúdos gostassem de lançar papagaios e mesmo construí-los, como nós fazíamos e agora recordei.

Também foi com o meu pai que aprendi a fazer papagaios. Embora tenha feito alguns até com papel de jornal, os mais bonitos, também mais caros, levavam papel de seda às cores. Para a estrutura do papagaio era preciso ir a um canavial e escolher umas canas fininhas que cuidadosamente se abriam ao meio para que ficassem ainda mais leves. Com as canas e com fio de sapateiro, ia pedir umas pontas ao Sr. Fernando Sapateiro de quem aqui já falei, construía-se a estrutura do papagaio que podia ter diferentes formas. Depois vinha a parte mais difícil, colar as folhas de papel na estrutura do papagaio. Quando era tempo para isso, usávamos "cola de damasqueiro", uma cola excelente feita com umas secreções da casca dos damasqueiros que misturadas com água produziam uma cola de boa qualidade e muito importante, barata. Quando não era o tempo, recorríamos à velha cola de farinha, água misturada com farinha fazendo uma pasta que também era a mais usada para colar os cromos das colecções nas respectivas cadernetas.

O papagaio estava quase pronto, levava um rabo que ajudava a equilibrá-lo no ar feito com um cordel e laços de papel nele dispostos. Atava-se o papagaio no novelo de fio de nylon ou cordel, quando não havia o mais fino nylon, e lá íamos. Para lançar o papagaio eram precisos, pelo menos dois, um segurava no "aparelho" e o outro, sempre um companheiro rápido de pernas, a uns metros segurava a corda. Ao sinal, começava a corrida, o lançamento do papagaio que, devo dizer, nem sempre voava à primeira. Lá recomeçava o lançamento até conseguirmos aquela magia de ter o papagaio bem alto, cheio de cores a voar, horas.

E a gente voava com ele. Aquele miúdo que vi há pouco a segurar o papagaio lá no alto, também.

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