Na Visão online Clara Soares assina uma peça sobre uma temática interessante, a importância da escuta, da disponibilidade para ouvir, na qualidade da relação com os outros e na preservação da saúde mental.
A leitura levou-me a pensar no universo dos mais novos, dos seus comportamentos e da forma como os adultos, profissionais ou pais, lidam com eles.
É muito frequente em conversas com pais ouvir “queixas” no sentido de que as crianças falam muito alto, muitas vezes gritam, tornado difícil e cansativa a relação. Também em ambiente escolar se ouvem frequentemente referências a comportamentos da mesma natureza.
Também não é raro observar grupos de crianças em que predomina na relação um excesso de ruído, par além do saudável “barulho” que se espera e entende como natural nos mais novos. Há quem entenda, oiço com muita frequência, que este tipo de comportamento tem por causa a educação que levam, ou da falta dela. Não me parece que o problema seja de educação.
Eu creio que, com muita frequência, os miúdos gritam muito porque, por vezes, muitas vezes, os adultos parecem mais surdos, isto é, ouvem-nos, não podem deixar de os ouvir, mas não os escutam. Por isso, desatam a gritar a ver se alguém os escuta, lhes liga para recorrer um termo muito adequado, ficar ligado e não desligado. Aliás, existem mesmo alguns miúdos cuja voz raramente se escuta por mais alto que tentem falar.
O problema é que, muitas vezes, nem assim e a grande questão
é que, do meu ponto de vista, a escuta é uma base para a ligação.
As múltiplas referências às dificuldades experienciadas
durante o período mais pesado do confinamento, com toda família em casa, sublinham
a importância da escuta como forma de manter ligações saudáveis, reguladas e
reguladoras.
Este entendimento não tem rigorosamente a ver com superpais ou superprofessores. Tem apenas a ver com atenção, bom senso e regulação que pressupõe afecto, regras, limites e autonomia.
Sem comentários:
Enviar um comentário