Na imprensa de hoje duas notas relativas a matérias do mundo da educação que merecem referência por razões diferentes, o aumento significativo de alunos candidatos ao ensino superior e as preocupações das direcções de escolas e agrupamentos com a insuficiência e qualidade dos recursos digitais para alunos e escolas.
Conforme já se antecipava pelo
volume de candidaturas na primeira semana e segundo dados divulgados pelo Ministério
da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior candidataram-se 62 675 estudantes
na 1ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior público. Trata-se
do número mais alto desde 1996 e significa mais 11 384 alunos que em
2019.
Se forem consideradas todos os
mecanismos de acesso e incluindo o ensino privado o MCTES estima que tenhamos cerca de 90 000 alunos no
ensino superior no próximo ano lectivo.
Importa agora que tenhamos
condições e recursos para minimizar o risco de abandono dados os custo elevados
para estudantes e famílias que o ensino superior implica e que se agravaram,
designadamente na situação de estudantes deslocados.
Este aumento é na verdade uma boa
notícia, a qualificação é um bem de primeira necessidade e a grande ferramenta
de construção de projectos de vida bem-sucedidos.
Como há dias escrevia, é fundamental
insistir em que não temos licenciados ou qualificação a mais, temos
desenvolvimento a menos e daí alguma dificuldade na absorção de mão-de-obra
qualificada. Continuamos a ter necessidade de reflectir sobre a rede e a oferta
de qualificação, corrigindo assimetrias e ajustando a oferta não só em função
da empregabilidade, mas não esquecendo o papel do ensino superior e da
investigação na promoção do desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento.
Uma segunda referência para a
notícia do DN relativa à preocupação dos directores de escolas e agrupamentos
face aos prometidos equipamentos informáticos para alunos e escolas, bem como a
melhoria dos recursos de acessibilidade.
Sabe-se que o Programa de
Estabilização Económica e Social prevê uma dotação de 400 milhões de euros
destinados à aquisição de computadores e ligação à Internet para as escolas
públicas, a incrementar a transição digital como lhe chamam.
Foi ainda divulgado que a
iniciativa Escola Digital, para além da compra de computadores e de serviços de
ligação à internet para escolas e alunos, tem ainda como objectivos desenvolver
a “capacitação digital dos docentes” e a desmaterialização dos manuais
escolares.
Numa primeira fase serão os
alunos abrangidos pela Acção Social Escolar.
Numa altura em que as incertezas
sobre como se iniciará o próximo ano lectivo, cujo arranque está a menos um mês,
são muitas as escolas preparam a possibilidade de recorrer mesmo que
parcialmente a ensino não presencial pelo que a aposta em recursos digitais vai
no caminho certo.
Não possuo dados que me permitam
a avaliar da suficiência da verba, mas considerando que se destina à aquisição
de equipamentos e dispositivos de acesso à net para milhares de alunos e,
certamente dezenas ou centenas de escolas, à promoção da “capacitação digital
dos docentes” e a ainda à desmaterialização dos manuais, me pareça claramente
aquém das necessidades para resposta imediata aos milhares de alunos que
ficaram mais distantes das escolas no ano lectivo que agora termina.
A desejada e promovida “Escola
Digital” exige recursos e em tempo oportuno sob pena de se alimentar
desigualdade e risco de exclusão.
Mas ainda falta “imenso tempo”
até ao regresso às aulas, não precisamos de ter pressa que, como sabem, é
inimiga da perfeição.
Resta esperar que a pandemia nos
seja leve.
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