No Público encontra-se um trabalho com base na
entrevista a Inês Oliveira, estudante do ensino superior, diagnosticada com
paralisia cerebral aos três anos. A Inês lançou um livro “Sentires Especiais” cuja
narrativa elucida a exigência e constrangimentos de diferente natureza que caracteriza
a vida de muitas pessoas com necessidades especiais e do que precisamos de
caminhar numa estrada a que chamam inclusão.
Sendo importante que sejam divulgadas as realizações de
pessoas, por outro lado, o teor de boa parte destas divulgações mostra um dos
aspectos mais gravosos no quotidiano e qualidade de vida destas pessoas,
sobretudo quando têm algum tipo de deficiência intelectual. Não acreditamos que
sejam capazes, quando se percebe que são … é notícia, hoje trata-se da Inês
Oliveira.
Algumas notas repescadas.
A verdade, mais uma vez e sempre, é que sem ser por magia ou
mistério quando acreditamos que as pessoas, mais novas ou mais velhas, com
algum tipo de necessidade especial, são capazes, não se "normalizam"
evidentemente, seja lá isso o que for, mas são, na verdade, mais capazes, vão
mais longe do que admitimos ou esperamos, mesmo tão longe como qualquer outra
pessoa. Não esqueço a gravidade de algumas situações mas, ainda assim, do meu
ponto de vista, o princípio é o mesmo, se acreditarmos que eles progridem, que
eles são capazes de ... , o que fazemos, o que todos podemos fazer, provoca progresso, o progresso
possível e níveis de realização significativos.
E isto envolve professores do ensino regular, de educação
especial, técnicos, pais, lideranças políticas, empregadores e toda a restante
comunidade.
No entanto, em algumas circunstâncias o trabalho
desenvolvido com e por estes alunos é ele próprio um factor de debilização, ou
seja, alimenta a sua incapacidade, numa reformulação do princípio de Shirky.
Tal facto, não decorre da incompetência genérica dos
técnicos, julgo que na sua maioria serão empenhados e competentes, mas da sua
(nossa) própria representação sobre este grupo de pessoas, isto é, não
acreditam(os) que eles realizem ou aprendam. Desta representação resultam situações
e contextos de aprendizagem e formação, tarefas e materiais de aprendizagem,
expectativas baixas traduzidas na definição de objectivos pouco relevantes,
que, obviamente, não conseguem potenciar mudanças significativas o que acaba
por fechar o círculo, eles não são, de facto, capazes. É um fenómeno de há
muito estudado.
Mais uma vez. A inclusão assenta em cinco dimensões
fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na comunidade a que se pertence
da mesma forma que estão todas as outras pessoas), Participar (envolver-se
activamente da forma possível nas actividades comuns), Pertencer (sentir-se e
ser reconhecido como membro da comunidade) e Aprender (como qualquer pessoa
para potenciar as suas capacidades adquirindo competências, qualificações e saberes). Estas
dimensões devem ser operacionalizadas assentes em modelos de diferenciação
justamente para que acomodem e respondam à diversidade das pessoas e promovam autonomia e autodeterminação.
É neste sentido que devem ser canalizados os esforços e os
recursos que deverão, obrigatoriamente, existir. Não, não é nenhuma utopia.
Muitas experiências noutras paragens, mas também por cá, mostram que não é utopia.
O primeiro passo é o mais difícil, tantas vezes o tenho
afirmado. É acreditar que eles são capazes e entender que é assim que deve ser.
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