Recebi uma mensagem por correio electrónico que me levou a retomar uma questão que muitas vezes aqui tenho
abordado, a importância do brincar e, em particular, as brincadeiras na rua ou,
numa versão mais dentro do jargão da educação, as actividades de ar livre.
Nos tempos que atravessamos, após um longo e penoso período de confinamento e ainda longe de uma situação de
tranquilidade talvez ganhe ainda mais sentido reflectir sobre a normalidade
a queremos voltar, também nesta matéria.
Somos dos países da Europa em que
adultos e crianças menos desenvolvem actividades no exterior contrariamente,
por exemplo ao que se verifica nos países nórdicos. É verdade que esses países
têm habitualmente climas bastante mais amenos que o nosso mas, ainda assim,
poderíamos ter durante mais tempo crianças e adultos a realizar actividades no
exterior. Por princípio e sempre que possível, a área curricular Estudo do Meio,
mas não só, poderia ser também Estudo no Meio.
Muitas experiências, incluindo em
Portugal, sugerem múltiplos benefícios para as crianças, inúmeras vantagens
para as crianças, desenvolvem maior autonomia, maior consciência ambiental e competências
em dimensões como bem-estar emocional, a partilha de emoções, a autonomia, a
autoconfiança, auto-regulação, a criatividade ou o pensamento crítico.
Embora consciente das questões
como risco, segurança e estilos de vida das famílias, creio que seria possível
alguma oportunidade de “devolver” aos miúdos o circular e brincar na rua,
talvez com a supervisão de velhos que estão sozinhos as comunidades e as
famílias conseguissem alguns tempos e formas de ter as crianças por algum tempo
fora das paredes de uma casa, escola, centro comercial, automóvel ou ecrã.
Como muitas vezes tenho escrito e
afirmado, o eixo central da acção educativa, escolar ou familiar, é a
autonomia, a capacidade e a competência para “tomar conta de si” como fala
Almada Negreiros. A brincadeira, a rua, a abertura, o espaço, o risco
(controlado obviamente, os desafios, os limites, as experiências, são
ferramentas fortíssimas de desenvolvimento e promoção dessa autonomia.
Como li no material que me
enviaram há que controlar o eventual perigo que é diferente do risco, as crianças
também “aprendem” a lidar com o risco
Talvez, devagarinho e com os
perigos e riscos controlados, valesse a pena trazer os miúdos para a rua, mesmo
que por pouco tempo e não todos os dias.
É, pois, importante que todos os
que lidam com crianças, em particular, os que têm “peso” em matéria de
orientação, pediatras, professores, psicólogos, etc. assumam como “guide line”
para a sua intervenção a promoção do brincar.
Os mais novos vão gostar e
faz-lhes bem.
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