O Público refere alguns dos dados
do "Perfil Escolar das Comunidades Ciganas" construído pela Direcção-Geral de
Estatísticas da Educação e Ciência e Direcção-Geral da Educação relativo a
2018/2019. Os dados, que consideram as respostas e 99% dos agrupamentos, sugerem
uma evolução positiva comparando em termos relativos com dados de 2016/2017 com
respostas de 70% dos agrupamentos.
Em termos sintéticos, o nível de
aproveitamento escolar subiu de forma significativa em todos os níveis de
ensino. No 1.º ciclo, de 61.6% para 85,6%, no 2.º ciclo, de 49.1% para 63.7%, no
3.º ciclo, de 49.4% para 73.7% e no secundário, de 64% para 75.4%.
Apesar a evolução positiva que se
saúda as taxas de retenção ainda são elevadas e verificam-se assimetrias
regionais significativas.
Um outro dado que merece atenção
é a continuidade de estudos pois também se verifica uma presença mais
prolongada das crianças ciganas no sistema de ensino embora com níveis de
abandono ainda preocupantes. Em 2016/2017, 45.4% frequentavam o 1.º ciclo, 23.7%
o 2.º ciclo, 13.9% o 3.º ciclo e 2% o secundário. Em 2018/2019, 44.3 %
frequentavam o 1.º ciclo, 24,3% o 2.º, 18,6% o 3.º e 2,6% o secundário.
São indicadores positivos, mas também
evidenciam o caminho que falta percorrer. Algumas notas.
A presença das crianças das comunidades
ciganas nas escolas públicas nem sempre é algo de pacífico e tranquilo como
seria desejável que acontecesse. Crianças em idade escolar a frequentar a
escola é, deveria ser, obviamente, uma situação normal.
A questão é que os fenómenos de
guetização presentes sobretudo no que toca à comunidade cigana e que são
complexos, produzem com frequência situações de exclusão e abandono. É
conhecido pelos estudos das ciências sociais que as comunidades ciganas
constituem uma das minorias com representação mais negativa em muitos países da
Europa.
A leitura das caixas de
comentários de notícias que envolvam a comunidade cigana é um bom exemplo dessa
representação social ainda que, evidentemente, não tenha valor estatístico.
Também sabemos que não chega a
retórica, não chega a referência exaustiva aos direitos humanos em particular
aos direitos das crianças e à educação inclusiva. Só com estratégias proactivas
e reguladas de trabalho global nas comunidades e nas diferentes dimensões,
urbanismo e habitação, emprego e apoios sociais, saúde e trabalho e,
evidentemente, educação é possível promover mudança.
Como também sabemos, não basta
ter as crianças na escola para que tudo corra bem. As experiências mostram que
as escolas precisam de ter projectos educativos assentes na sua autonomia, dispositivos e recursos suficientes e competentes para respostas educativas diferenciadas que promovam a presença bem-sucedida destes miúdos, como, aliás, de todos os
outros. Questões desta natureza não envolvem, naturalmente, apenas os alunos de etnia cigana, são críticas na acomodação com sucesso da característica mais óbvia de qualquer grupo de alunos, a diversidade.
Parece também importante a
existência de estruturas de mediação entre a escola e as famílias e comunidades
o que implica recursos humanos qualificados e disponíveis. As
iniciativas melhor sucedidas mobilizam frequentemente a intervenção de
mediadores que contribuem de forma decisiva para a construção de pontes e
comunicação entre culturas, valores, crenças, (prec)conceitos, ...
Caso contrário, temos o que por
vezes designo por “entregação” (estão entregues) e não integração, com os
problemas conhecidos daí decorrentes ao nível da aprendizagem, comportamento,
absentismo e conflitualidade e reacções negativas de alguns pais e professores,
ainda que com a concordância de outros.
Por outro lado, as próprias
comunidades ciganas devem ser objecto de intervenção e exigências que não pode
ficar na atribuição de uma casa num qualquer bairro social (mais um gueto) e na
atribuição, por vezes desregulada, de apoios sociais.
Como sempre, pela educação é que
vamos.
Sem comentários:
Enviar um comentário