Era uma vez uma terra chamada A
Terra da Contradição. Tinha, como muitas das terras, uma forma de organização
política designada por democracia representativa. Assim, os cidadãos pessoas
organizavam-se em estruturas partidárias e na altura em que se realizavam
eleições desenvolviam-se campanhas de apresentação e divulgação de ideias com
que cada partido procurava captar o voto do cidadão. O partido com mais votos
era chamado a constituir o governo que, em princípio, duraria até novas
eleições. A Terra da Contradição tinha uma particularidade curiosa que envolvia
muita gente, mas estava sobretudo presente no discurso das pessoas ligadas à
actividade política. Era essa particularidade o facto de cada pessoa, consoante
as circunstâncias, o tempo ou outro qualquer critério, expressar opiniões e
posições absolutamente contraditórias com a maior naturalidade. De facto, era
muito frequente uma pessoa pertencendo ao partido do governo defender uma
coisa, e, quando na oposição defender outra completamente diferente. Em poucos
dias ou semanas as pessoas mudavam de opinião com a maior das facilidades sobre
qualquer aspecto.
Uns diziam que este funcionamento
se deveria à inteligência das pessoas, porque “só não mudam os burros”, outros
achavam que é preciso evoluir, alguns ainda pensavam que se tratava de alguma
incoerência nos outros e flexibilidade em si próprios. Enfim, a dificuldade era
encontrar alguém que, de facto, tivesse um discurso coerente, sólido e durável
sobre a vida e as suas circunstâncias, sobretudo ao nível dos grandes
princípios.
Às vezes, os que assim procuravam manter-se até eram acusados de
conservadores, imobilistas e incapazes de evoluir.
Esta terra tinha uma paisagem
lindíssima e bucólica, marcada pela presença dos milhares de cata-ventos das
mais variadas formas e cores.
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