Depois de conhecermos algumas das orientações para o próximo ano lectivo apresentadas no Parlamento sobre as quais deixei aqui umas notas, li com alguma
atenção a entrevista do Ministro da Educação ao Expresso.
É verdade que ainda falta imenso
tempo para o início do ano lectivo e que como não há alunos nas escolas em
Agosto professores e direcções têm uma muito maior disponibilidade para planearem
o arranque do ano lectivo ponderando cenários diferenciados de acordo com a
evolução da situação em matéria de saúde pública.
Globalmente, fiquei ciente de que
dentro do possível e tanto quanto possível, recorrendo aos recursos possíveis e
às metodologias possíveis e dentro das condições logísticas possíveis, adaptando
os espaços da melhor forma possível, professores e direcções farão com o
empenho que lhes é reconhecido todos os esforços possíveis para que o ano lectivo
arranque o melhor possível dentro das condições possíveis. Ainda bem.
De forma mais séria, em termos concretos
e a propósito de algo que me parece muito importante como já aqui escrevi, o
reforço do apoio do tutorial, alargando-o ao secundário e alunos com uma
retenção ou que tenham ficado retidos este ano, o Ministro sublinhou o
anunciado aumento de docentes através do acréscimo de 25% do crédito horário
das escolas, referindo que “Vamos ter um reforço muito substancial de docentes
que equivale ao horário integral de cerca de 2500 professores. Pensando que
cada professor tem 35 horas de trabalho, são todas essas horas que vamos ter (a
mais) nas nossas escolas.”
Sublinhou a importância deste
tipo de resposta, aqui concordamos, afirmando que permite “que um professor
esteja quatro horas por semana com um determinado aluno a trabalhar matérias
curriculares, mas também de cidadania, motivação ou assiduidade, que provocam
muitas vezes o insucesso.”.
Não sei se o Senhor Ministro sabe
que uma parte do horário dos docentes não é trabalho lectivo, que a
generalidade dos docentes lida com uma pressão burocratizante e “grelhadora” excessiva
e desgastante ou que o actual Programa Apoio Tutorial Específico estabelece por
princípio e para cada docente tutor, quatro horas semanais sim, mas para 10
alunos, 10 alunos Senhor Ministro, não um aluno.
Talvez por isso e como há dias
recordei a propósito do anúncio do reforço do Programa Tutorial, a avaliação de
17/18 da Inspecção-Geral referia como dificuldade o número elevado de alunos
por grupo em apoio tutorial específico, 46% dos grupos tinham mais de 10
alunos, o efectivo definido no programa. Acrescia que 75% dos 2537 professores
tutores participantes não tinham formação específica e 34% dos agrupamentos não
possuem qualquer docente com formação área.
Bom, mas ainda estamos longe do início
do lectivo, vai correr bem.
Gostava de me sentir mais
tranquilo, a verdade é que não fiquei.
Faço parte daqueles que sublinhando
e agradecendo o esforço gigantesco e que merece reconhecimento por parte de
escolas e professores durante este ano lectivo também reconhecem que muitos
alunos, em particular os mais vulneráveis ou com necessidades especiais e
famílias, ficaram mais longe da escola, em maior risco de insucesso. Como já escrevi, se para todos todos os alunos este ano ano foi o mais estranho do seu percurso, para estes o próximo ano será provavelmente o mais importante.
Reconhecer e assumir isto não tem
nada a ver com demagogia, paternalismo ou injustiça. O que achei mais injusto e preocupante foi a manutenção durante demasiado tempo de um deslumbramento que passava a ideia de que "tudo estava bem" com o E@D, na verdade, ensino não presencial de emergência.
O que me parece menos justo e
competente é a promoção de discursos assentes em “wishful thinking”, a
realidade está enganada eu é que estou certo.
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