quarta-feira, 15 de julho de 2020

DO "ENGRAÇADISMO"


É sempre difícil ser juiz em causa própria. No entanto, atrevo-me a dizer que me considero um tipo com algum sentido de humor e gosto de me rir, com e de.
Mas se existe algo que me abespinha mesmo é a onda de “engraçadismo” que invade a comunicação social. O humor é uma coisa o “engraçadismo” é outra coisa bem diferente e profundamente irritante.
Para quem conhece o ambiente de muitas salas de aula é um clássico, o miúdo esperto que adora lançar piadas sem piada, fazer cenas bué d’engraçadas apenas para chatear o "setôr", para se rir muito de si mesmo e, sobretudo, para que o seu grupo de apoiantes se ria e o ache "mesmo fixe", mesmo esperto.
Também em casa conhecemos o mesmo estilo, “armar” em engraçado sem graça.
Mas o que me tira do sério são os adultos que cultivam o “engraçadismo” convencidos do seu enorme humor. Esta síndroma afecta até … humoristas. Dois rapazes que antes faziam humor integrados no Gato Fedorento dedicam-se agora ao engraçadismo nas páginas do Observador, textos sem graça ou humor pejados de preconceitos e alarvidades que a liberdade de expressão e a agenda que servem lhes permite, felizmente, e que a liberdade de opinião, felizmente, também me permite escrever que nos putos tolero, faz parte do crescimento, nos adultos irrita, é muito umbiguismo para o meu gosto.

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