Vale a pena aceder ao podcast “A pandemia tornou a educação ainda mais distante para as crianças deficientes” que se encontra
no Público. Sugere vários tópicos para reflexão.
O trabalho centra-se no impacto no processo educativo e de
desenvolvimento do fim das aulas presenciais e da resposta de emergência E@D
nos alunos com necessidades educativas especiais e as dificuldades sentidas
pelas famílias.
Como está ainda em aberto o recurso a ensino à distância
ainda que coexistindo com aulas presenciais, retomo algumas notas.
Apesar de boas práticas que sempre existirão, afirmei “o que
com enorme esforço e motivação foi estruturado no ensino à distância (E@D) foi
uma resposta de emergência que procurou substituir e minimizar o impacto do
encerramento das escolas, mas não é uma alternativa, dificilmente o será
sobretudo nos primeiros anos de escolaridade e em particular no caso de alunos
com necessidades especiais".
A eventual manutenção de aulas não presenciais, mesmo que em
tempo parcial, solicita uma séria reflexão sobre o que deverão ser, sobretudo
nos primeiros anos de escolaridade e para alunos com necessidades especiais e o
tempo não é muito.
No trabalho do Público famílias e técnicos sublinham os
riscos os riscos de retrocesso decorrentes da situação de ensino à distância e
das dificuldades de acesso a apoios adequados.
De facto, vivemos num tempo estranho, falamos de educação
inclusiva num cenário de “ensino à distância” e com os alunos ausentes dos
espaços onde se realiza a educação escolar, a sala de aula, a escola. Para
muitos alunos com necessidades especiais e para muitos outros e por diferentes
razões tem mesmo aumentado a sua distância para a escola o que naturalmente
terá efeitos negativos, quer no progresso nas aprendizagens, quer numa
perspectiva de educação inclusiva.
Como tenho afirmado, não esqueço que mesmo em tempos
“normais” também temos constrangimentos e insucessos, mas, ainda assim, temos
uma variável muito importante, proximidade. Também é importante sublinhar de
novo o esforço gigantesco de escolas e professores para estruturar a resposta
de emergência designada por E@D.
O ME divulgou em Abril “Orientações para o trabalho das
Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação Inclusiva na modalidade E@D”.
Como disse na altura, sendo importante que se conheçam
orientações da tutela, o que foi divulgado as “orientações” reflectiam
fundamentalmente as competências e funções das EMAEI o que no quadro da
resposta que temos será de uma enorme dificuldade de operacionalização.
Na altura afirmei que me parece pertinente definir duas
grandes linhas de trabalho.
A primeira seria a colaboração com os docentes para o
trabalho a desenvolver neste contexto particular em que a planificação
“existente” não tem obviamente condições para funcionar. Questões como que
objectivos a manter ou redefinir, que actividades e com que recursos a
desenvolver em casa, que duração, que rotinas de trabalho, que apoio solicitam
pais ou de irmãos, etc., são alguns dos exemplos em que o que está definido
nesta imensidade de RTP/PEI/PIT poderá necessitar de ser reconfigurado. A
disponibilização de apoios específicos também foi profundamente comprometida agravando
dificuldades de alunos e famílias.
Uma segunda linha seria o apoio aos pais. No entanto, creio
que tanto ou mais do que criar formas de apoio aos pais no sentido de serem
“professores” ou “técnicos” dos seus filhos, ou seja, o apoio dos pais ao
“trabalho” dos filhos no “ensino à distância” julgo que precisamos de apoiar os
pais enquanto pais num quotidiano altamente exigente em matéria de resistência
física e psicológica. São grandes os riscos de cansaço, impotência desânimo,
culpabilização, etc. para mais dentro de um cenário de isolamento. Esta questão
quanto a mim é crítica.
O trabalho do Público é elucidativo e os depoimentos,
sobretudo das mães, mostra que a realidade não é exactamente a projecção dos
nossos desejos e existe uma longuíssima e sinuosa estrada para percorrer.
Como na altura afirmei e não querendo ser polémico ou
provocador, não é de todo a intenção, um contacto regular próximo e acessível e
com alguma disponibilidade para “ouvir” será talvez mais importante que o
cumprimento rigoroso dos RTP/PEI/PIT.
No entanto e como é evidente cada situação sugerirá a melhor
abordagem.
Parece bem provável que o Setembro de 2020 não será igual ao
Setembro de 2019, as inquietações e as dúvidas são muitas e o tempo já não é
muito.
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