Gostei de ler e merece reflexão “Educação inclusiva é “não deixar ninguém para trás”” no Portal Educare. Algumas notas.
Ao fim de mais de quarenta anos
nesta lida, a educação de crianças e jovens com necessidades especiais, (sim,
com necessidades especiais) ou, de forma mais lata, a resposta educativa à dversidade, o cansaço cresce a par de algum desencanto. A idade
também já não me permite optimismos ingénuos e aceitar que a realidade é o que
me dizem que é e não o que nela vejo, oiço, leio. Acresce que a minha agenda
não é de geometria variável, posso estar errado, mas assenta no que entendo ser
o melhor para crianças, famílias, professores e técnicos.
E também já não chega saber que
também acontecem coisas muito positivas nas escolas e comunidades. Tal facto,
que saúdo, ilustra, aliás, a única dimensão em que o sistema é verdadeiramente
inclusivo, acomoda de tudo, da excelência ao atropelo de direitos. Sempre em
nome da inclusão.
Mas a verdade é que cada vez
sinto mais dificuldade em falar sobre educação inclusiva.
É verdade que a questão da
inclusão, em particular da inclusão em educação, é presença regular nos
discursos actuais. É objecto de todas as apreciações, ilumina todas as
perspectivas e instrumentos legislativos e acomoda todas as práticas, incluindo a “entregação” que
manifestamente não promove inclusão, antes pelo contrário. Por vezes,
demasiadas vezes, confunde-se colocação educativa, crianças com necessidades
especiais na sala de aula regular, com inclusão. Aliás, a inclusão até se
constitui como um nicho de mercado promissor.
O termo está tão desgastado que
já nem sabemos bem o que significa. Não esqueço o que positivo se faz, mas
conheço tantas práticas e tantos discursos que alimentam exclusão e que são
desenvolvidas e enunciados ... em nome da inclusão. Tantas vezes me lembro do
Mestre Almada Negreiros que na "Cena do Ódio" falava da "Pátria
onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões".
A inclusão assenta em cinco
dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na comunidade a que
se pertence da mesma forma que estão todas as outras pessoas), Participar
(envolver-se activamente da forma possível nas actividades comuns), Aprender
(tendo sempre por referência os currículos gerais) e Pertencer (sentir-se e ser
reconhecido como membro da comunidade). A estas cinco dimensões acrescem dois
princípios inalienáveis, autodeterminação e autonomia e independência.
Este é o caderno de encargos que
nos convoca, deveria convocar, a todos, todos os anos, todos os dias.
Estas notas não se colam aos dias atípicos que vivemos, mas também envolvem os dias atípicos que vivemos.
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