Um trabalho ontem divulgado e da
responsabilidade do ISCSP e encomendado pela Fundação Gulbenkian refere que em 2017, 63.4%
dos jovens entre os 18 e 34 anos vivia em casa dos pais, uma das mais altas
médias europeias, apenas Grécia e Itália têm percentagens mais elevadas.
Recordo que dados do Eurostat de 2017 sugeriam que os jovens portugueses abandonam a casa dos pais aos 29.2
anos em média. Como é habitual nos países nórdicos verifica-se a saída mais
precoce, cerca dos 21anos e no sul da Europa estão os países com a saída mais
tardia e nos quais se inclui Portugal.
A Caritas divulgou em 2018 um Relatório
sobre Portugal “Os jovens na Europa precisam de um futuro!” no qual também se
reconhecia a dificuldade dos jovens portugueses em construir projectos de vida
autónomos e positivos.
Nesse trabalho eram identificadas
como dimensões críticas a dificuldade em aceder a trabalho digno, a
precariedade laboral, os custos elevados da educação e qualificação e os
elevados custos no acesso, renda ou compra, de habitação.
Este cenário ajuda a perceber
algumas das mais fortes razões pelas quais os jovens em Portugal abandonam a
casa dos pais cada vez mais tarde. Para além das questões de natureza cultural e
de valores que importa considerar, bem como as políticas de família nos países
do norte da Europa, as actuais circunstâncias de vida dos jovens e implicações
da crise decorrente da pandemia sustentam este cenário que provavelmente
demorará a ser revertido sendo mesmo provável que se agudize nos tempos mais
próximos.
Temos ainda um número muito
significativo, superior a 100 000 jovens, de acordo com o INE em 2017
seriam 175 mil, entre os 15 e os 29 anos que não estudam, nem trabalham, a
geração “nem, nem" ou, na terminologia em inglês os jovens NEET (Not in
Education, Employment or Training). Acresce que uma parte significativa não
está inscrita nos Centros de Emprego.
Parece importante assinalar que
esta situação afecta sobretudo jovens com menos qualificações e mulheres, o que
também não é novo. A exclusão escolar é quase sempre a primeira etapa da
exclusão social.
A estes indicadores já
profundamente inquietantes deve juntar-se os dados sobre precariedade, abuso do
recurso a estágios e outras modalidades de aproveitamento de mão-de-obra barata
e a prática de vencimentos que mais parecem subsídios de sobrevivência mesmo
para jovens altamente qualificados.
Esta situação complexa e de
difícil ultrapassagem tem obviamente sérias repercussões nos projectos de vida
das gerações que estão a bater à porta da vida activa. Entre outras,
contar-se-ão, os dados hoje conhecidos mostram-no, o retardar da saída de casa
dos pais por dificuldade no acesso a condições de aquisição ou aluguer de
habitação própria ou o adiar de projectos de paternidade e maternidade que por
sua vez se repercutem no inverno demográfico que atravessamos e que é uma forte
preocupação no que respeita à sustentabilidade dos sistemas sociais. As
gerações mais novas que experimentam enormes dificuldades na entrada sustentada
na vida activa, vão também, muito provavelmente, conhecer sérias dificuldades
no fim da sua carreira profissional.
No entanto, um efeito muito
significativo mas menos tangível desta precariedade no emprego e na construção de um projecto de vida autónomo e sustentado, é a promoção de
uma dimensão psicológica de precariedade face à própria vida no seu todo e que,
com alguma frequência, os discursos das lideranças políticas acentuam. Dito de
outra maneira, pode instalar-se, está a instalar-se nos jovens, uma desesperança
que desmotiva e faz desistir da luta por um projecto de vida de que se não
vislumbra saída mobilizadora e que recompense.
O aconchego da casa dos pais pode
ser a escapatória para a sobrevivência, mas potenciar o risco da desistência o que certamente poderá ter implicações séria.
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