Após estas primeiras semanas de confinamento para parte significativa
da comunidade começam a aparecer na imprensa textos que analisam e perspectivam
o “retorno à normalidade”. Em termos individuais creio que será algo que está
permanentemente em nós, quando voltaremos à normalidade. Este movimento é necessário, diria
imprescindível. Em termos mais globais porque é importante percebermos com será
esse retorno, quando será esse retorno e o que importa ponderar para que se recupere.
De um ponto de vista mais individual é fundamental em termos
de protecção que criemos imagens de futuro que nos apoiem para lá chegar neste
caminho que não é fácil e tem inúmeros riscos.
A grande questão será, creio, a que normalidade queremos voltar
ou melhor, a que normalidades queremos voltar. Na verdade, existem múltiplas
normalidades e talvez as circunstâncias excepcionais em que vivemos nos
possibilitem e inspirem a repensar se algumas das “normalidades” que conhecemos
seria desejável que se mantivessem. Nesta perspectiva, o texto de Vítor
Belanciano no Público, “Não queremos voltar à normalidade” é interessante pois
por normalidade podemos estar a “nomear décadas que arruinaram sistemas de
saúde, de habitação, segurança social e o ambiente, colocando-se o lucro
privado à frente do bem-estar das comunidades e do planeta.”. Quereremos
voltar a esta normalidade que alimenta exclusão, pobreza, intolerância ou atropela direitos? Se nada
se repensar ou refizer, após a pandemia e à boleia da lenta recuperação esta normalidade voltará, é uma normalidade resistente e se continuar a ser muito bem alimentada como tem sido, assim se manterá.
Por outro lado, teremos uma normalidade de que também no
Público Bárbara Wong fala no texto, “Quando regressamos ao velho normal?”, “(…)
mas sinto (saudades) dos abraços e dos risos dos outros que não os meus, com
quem atravesso este isolamento. Anseio pelo dia em que possamos, finalmente,
sair, respirar e viver sem medo de contágios.”
Sim, ansiamos pelo regresso a uma normalidade que se traduz
na proximidade com os de que gostamos e voltam a estar à distância de um gesto, à
normalidade dos alunos nas escolas, da gente na rua, nas lojas e empresas e a circular sem medo do “bicho”
como dizem os meus netos. Já existem referências às saudades que os miúdos têm da escola, sim, os miúdos gostam da escola e dos professores. Os miúdos referem
o regresso ao estar com os amigos, ao jogarem à bola e ao tudo que pode ser
realizado como o que farão logo a seguir.
Esta normalidade queremo-la de volta e tão depressa quanto possível.
No entanto, deveríamos reflectir se queremos todas as normalidades de volta ou que novas normalidades precisamos de definir. Não depende só de nós, mas também depende de nós.
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