Com base no Progress in International Reading Literacy Study (PIRLS) de 2016 o DN recupera alguns dados que nos tempos actuais merecem particular
atenção.
Considerando os participantes no estudo, alunos de 4º ano,
em Portugal 7,33% refere sentir fome "todos os dias". A média para
estes dois grupos de resposta nos 47 países envolvidos no estudo é 26%.
Nunca é demais chamar a atenção para a situação de extrema
dificuldade que muitas famílias atravessam para assegurar condições básicas de
qualidade de vida como a alimentação. Nos tempos que atravessamos, os riscos
sobem apesar do esforço de manter muitas cantinas escolares abertas para apoio
a alunos
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das
crianças e em aspectos mais particulares como o rendimento escolar ou o comportamento
é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais
potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente
negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades
básicas.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências,
não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais
referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social
através da educação. Não estranhamos. Dói, mas é “normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias não resisto a recuperar uma história
que conto muitas vezes, coisas de velho como sabem, e que foi umas das maiores e
mais bonitas lições sobre educação que já recebi.
Aconteceu há já uns anos largo em Inhambane, Moçambique,
também conhecida por Terra da Boa Gente. Num início de manhã íamos a passar por
uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu
anjo da guarda durante as semanas que lá estive em trabalho, parou a olhar. Não
estranhei, era um homem que não conhecia o significado de pressa.
Um tempinho depois disse-me que se tivesse “poderes de
mandar” traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha
estranheza, explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende
quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, miúdos com fome não aprendem e vão continuar
pobres. E infelizes, não se riem.
Ontem hoje e amanhã. Não podemos falhar.
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