Em continuação do texto de ontem sobre as decisões divulgadas
pelo ME agora umas notas relativas ao ensino secundário.
Parece claro que tudo o que foi decidido se subordina à
questão dos exames nacionais e do seu impacto no acesso ao ensino superior.
Sendo claro que nesta altura não seria opção a alteração do modelo de acesso ao ensino superior, a não realização
de exames não poderia ser aceitável. Países que o fizeram não têm um modelo de
acesso ao superior com as características do nosso.
Não se realizando os exames abrir-se-ia uma porta
larguíssima à "simpatia" de algumas escolas, fenómeno reconhecido e investigado, que inflacionam
a avaliação interna dos seus alunos de forma a, por assim dizer, ajudá-los a dar
um “saltinho” na média final. É sabido que o “saltinho” pode ser decisivo para entrar,
embora seja de pouco proveito para a continuidade da carreira escolar como diversos
estudos têm evidenciado.
Assim, havendo exames e dadas as circunstâncias teriam de ser
adiados, a primeira fase realiza-se entre 6 e 23 de Julho e a segunda fase entre
1 e 7 de Setembro.
A existência dos exames justifica ainda a manutenção da realização
de aulas presenciais para estes alunos se a evolução da situação na saúde
pública o permitir. Como também justifica que as aulas presenciais só se
realizarão para as disciplinas sujeitas a exame por integrarem os critérios de
acesso aos diferentes cursos. E informa ainda a afirmação do Primeiro-ministro
de que as aulas presenciais são importantes mesmo que possam ser apenas de
alguns dias sobretudo para tirar dúvidas
O repetido discurso de prudência e controlo dos riscos para
professores, alunos e funcionários não parece suficiente para tranquilizar os
envolvidos o que na situação que vivemos se compreende como também não
tranquiliza as exigências logísticas para montar o dispositivo, quer de
eventuais aulas presenciais, quer dos próprios exames. Confiemos nas decisões
das autoridades de saúde e na apreciação de riscos.
No entanto, o cenário que se desenha coloca uma outra
questão bastante importante do meu ponto de vista. Se, como desejamos, a
situação evoluir positivamente de forma a permitir a realização de aulas
presenciais, por um período maior ou menor, também permitirá, mais do que
habitualmente acontece, a corrida aos centros de explicações. Sendo habitual
esta “corrida”, sem aulas presenciais “normais” com uma alternativa com alguns
constrangimentos como é o “ensino à distância de emergência”, a procura desta
ajuda será certamente bem maior.
Se como também é reconhecido, a capacidade das famílias para
acederem a estes apoios “extra” constitui um factor de potencial desigualdade
entre os alunos, na situação actual com quebras de rendimento significativas em
muitos agregados familiares o risco de desigualdade é ainda mais preocupante.
Tenho a certeza de que as escolas e os professores no tempo
que terão e com os meios que possuem desenvolverão o melhor trabalho possível
de preparação dos alunos mas … é uma tarefa gigantesca.
É verdade e sublinho a decisão que a estrutura dos exames
será adaptada através da criação de grupos de respostas opcionais e de respostas
obrigatórias que cria a possibilidade dos alunos responderem às questões para cuja resposta se sintam melhor preparados. Neste
contexto, manutenção dos exames, parece uma medida ajustada.
Dado tudo isto e considerando sempre que a não realização de
exames não seria opção, julgo que seria mais prudente adiar mais os exames de
modo a permitir com maior segurança aulas presenciais promotoras de mais
equidade. Não me parece que não fosse acomodável pelo ensino superior começar
os trabalhos do 1.º ano algum tempo depois. Como também creio que seria
possível adiar umas semanas o início das aulas no ensino secundário do próximo
ano lectivo para os alunos que neste momento estão no 9.º. 10.º e 11.º
No que respeita ao ensino superior não seria a primeira vez que
tal acontecia e não seria algo que comprometesse a carreira escolar dos novos
alunos e o funcionamento dos estabelecimentos de ensino superior.
Mas a decisão está tomada, ainda não sabemos como tudo irá
evoluir, mas sei que escolas e professores farão o esforço necessário para que
o difícil período que se avizinha seja tão bem-sucedido para todos quanto
possível.
A ver vamos.
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