O conjunto de decisões sobre o futuro próximo da educação em
Portugal ontem anunciadas veio ao encontro do que se previa.
Abordando hoje a questão do ensino básico creio que no
cenário verdadeiramente excepcional que vivemos incluindo a dificuldade de
estabelecer com segurança o seu fim, parece claro e aceitável o que foi
divulgado que, aliás, parece estar a ser bem recebido pela comunidade.
Mantém-se o recurso ao ensino à distância com o apoio da
recuperada Telescola, agora #EstudoEmCasa, não se realizam as provas de
aferição bem como os exames finais e os docentes e escolas gerirão a avaliação
interna a realizar considerando o trabalho que foi desenvolvido.
Como creio que é claro para todos, a resposta estruturada sendo
a possível não é perfeita, longe disso, como não era perfeita a resposta
assente no ensino presencial AC (Antes da Covide-19). O ensino à distância que
estamos a desenvolver acrescido do contributo de #EstudoEmCasa é uma resposta
de emergência que procura substituir e minimizar o impacto do encerramento das
escolas, mas não é uma alternativa, dificilmente o será sobretudo nos primeiros
anos de escolaridade.
Apesar do gigantesco esforço de professores e escolas e do
aumento da acessibilidade e dos recursos digitais muitos alunos terão contextos
familiares em que por variadíssimas razões será particularmente difícil o apoio
necessário de adultos sobretudo para as crianças mais novas que, naturalmente,
são menos autónomas.
Acresce, importa não esquecer, que para muitos alunos com
necessidades especiais a situação traz dificuldades acrescidas. O ME
disponibilizou algumas orientações, é importante que existam, o seu enunciado em
papel parece adequado, mas, do meu ponto de vista, em contextos reais e com
características específicas serão de difícil operacionalização. Mais uma vez,
se com os docentes e técnicos nas escolas as dificuldades são grandes, nestas
circunstâncias avolumam-se e muito.
Neste contexto julgo que começa a ser necessário que, tal
como na economia se está já a iniciar a preparação do pós-pandemia, também no
universo da educação comecemos a pensar no próximo ano lectivo.
Julgo que será consensual que o próximo ano não pode ser
pensado como se este tivesse sido um ano normal, seja lá isso o que for. Não é
e não será, por melhor que corram os próximos meses e desejamos que seja o
melhor possível.
O Primeiro-ministro assumiu ontem o “compromisso de que
no início do próximo ano lectivo, aconteça o que acontecer, teremos assegurado
a universalidade do acesso em plataforma digital, rede e equipamento, para
todos os alunos do básico e do secundário”. Trata-se, evidentemente, de uma medida
positiva e necessária em termos de equidade e inclusão para além de dotar todos
os alunos de ferramentas digitais com enquadramento no sistema.
Considerando alguns constrangimentos que esta emergência
criou e que, apesar de todos os esforços, para alguns alunos terão certamente
impacto mais significativo julgo necessário que comecemos a pensar como no
arranque do próximo ano lectivo e ao longo dos primeiros meses poderão ser
definidos nas escolas alguns dispositivos que procurem identificar alunos “que
ficaram para trás”, que dificuldades revelam, que apoios podem receber, etc.
Atendo ao que acima referi são também necessários um olhar e
uma intervenção particulares nos eventuais efeitos deste final de ano lectivo
em muitos alunos com necessidades especiais e nas dificuldades criadas nas
famílias.
Seria óptimo que no meio deste turbilhão no qual todos os dias
aprendemos e sentimos dificuldades conseguíssemos ir pensando em como e com que
recursos podemos tentar “ir buscar” os miúdos e adolescentes que correm o sério
risco de perder o comboio. Em que eventuais recursos
Não se trata de uma tarefa fácil, em educação, brincando com
as palavras, é difícil ter uma tarefa fácil, mas temos de tentar e começar a
pensar como.
Ainda uma palavra para a situação das crianças até aos seis anos. Creches e jardins-de-infância permanecerão encerrados e as crianças em casa. Não é possivel que seja de outra forma mas é possível que, como já está a acontecer, tentemos disponibilizar às famílias apoios e orientações que contribuam para que tanto quanto possível o tempo difícil para adultos e crianças decorra com a maior tranquilidade possível.
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