Nestes tempos excepcionais e no universo da educação entra hoje
nas nossas casas a iniciativa #EstudoEmCasa, a nova Telescola como lhe chamam.
Uma nota para sublinhar que a semelhança com a Telescola de há décadas é pouca,
nas circunstâncias, nos objectivos, nos meios e, sublinhe-se, na ausência de um
professor juntos dos alunos, grupo de alunos recorde-se, a mediar a “assistência” às aulas televisivas.
Registo o esforço gigantesco de ME, escolas, docentes e
famílias para que “não falte a escola” aos muitos milhares de alunos e merece reconhecimento. Com inúmeros constrangimentos e sobressaltos
de diferente natureza, voluntarismo, diferenciação nas competências e meios ao dispor
de escolas e professores, dispersão pulverizada de iniciativas e suportes, a
ideia parece continuar a ser o impossível, instalar a sala de aula no cantinho
de cada aluno.
Pensando mais nos alunos dos primeiros anos de escolaridade (mas não só), não é possível
transformar o cantinho de cada aluno numa sala de aula, mesmo que os alunos
tenham um “cantinho” lá em casa com algumas condições básicas. E muitos não têm.
As famílias, elas próprias, tal como os miúdos, são “cantinhos” diferentes, muito diferentes, em
muitos aspectos e por várias razões. Já aqui muitas vezes falei das desigualdades
nos contextos familiares e na diversidade dos alunos. Quanto mais insistirmos
em ter como objectivo “replicar a sala de aula” no E@D mais a desigualdade se
acentua.
Também é verdade devo dizer, que vamos conhecendo algumas experiências
interessantes e positivas, mas, justamente, porque parecem não querer replicar
a sala de aula.
Já aqui escrevi um texto em se colocava a hipótese de tornar
a ideia de “simplificação” como orientação de base para tudo que nesta altura
for realizado para “entregar” a escola em casa dos alunos. Parecem-me essencial
para os mais novos, sobretudo 1º ciclo ou educação pré-escolar, pois em anos de
escolaridade posterior a situação já é um pouco diferente, embora se mantenha,
do meu ponto de visa, a necessidade de se manter a “simplificação” como
orientação de base.
É minha convicção que nestes dias, a grande necessidade, o
grande objectivo diria, será manter os alunos ligados à escola, aos
professores, aos colegas. Em tempos de isolamento, a ligação é uma ferramenta
de sobrevivência para os miúdos e para os miúdos no seu papel de alunos. Essa
ligação, terá os suportes disponíveis e tão acessíveis a todos quanto formos
capazes e não podemos falhar.
Esta ligação (relação, comunicação, podem ser outras
designações) permitirá que a “escola” continue na cognição e na emoção de cada
criança, faça parte dos dias confinados e das suas rotinas. Fará parte do “kit
de sobrevivência” em tempos com riscos de que ontem falava.
Claro que esta ligação pode (deve) envolver a realização de
tarefas de natureza escolar, curtas, diversificadas, com uma natureza que não
exija a intervenção dos “pais-professores” para que possa ser realizada, nem todas
as crianças os têm no seu cantinho.
Estas actividades exercitam competências e podem ser
continuadas de forma diferente nos cantinhos de cada criança. Podem estar
seguros de que as crianças continuarão a aprender.
Nestes primeiros anos e nestas circunstâncias não me parece
que o “cumprimento” do programa deva ser o grande objectivo. No próximo ano
lectivo alunos e professores serão capazes de recuperar no essencial a aquilo
que agora não foi “trabalhado”, assim o tenhamos como preocupação e orientação.
E a tão referida avaliação neste terceiro período atípico, não
pode deixar de ser … atípica. No entanto, pode e deve manter as suas
imprescindíveis funções de regulação dos processos de ensino e de aprendizagem
que, importa não alimentar o habitual equívoco, são processos diferentes. Nestes
tempos excepcionais, mais do que nunca assim deve ser entendido.
Sem comentários:
Enviar um comentário