O ME divulgou as “Orientações para o trabalho das Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação Inclusiva na modalidade E@D”. É útil
que se conheçam e não deixa de ser curioso e mais um sinal destes estranhos e
excepcionais tempos estarmos a falar de educação inclusiva “à distância”, para
alunos “confinados” em casa. Algumas notas.
A situação que vivemos coloca às famílias e aos professores
e escolas enormes desafios para os quais por razões óbvias não temos respostas
eficientes ou aproximadas dos tempos “normais” de que todos já temos saudades.
Não esqueço que mesmo nesses tempos “normais” também temos constrangimentos e
insucessos, mas, ainda assim, temos uma variável muito importante, proximidade.
Desde o início da iniciativa de “escola à distância de emergência”,
a resposta possível que o esforço gigantesco das comunidades educativas definiu
estruturou num espaço de tempo curtíssimo, foi clara assimetria e os riscos de
desigualdade para muitos alunos. Desde logo pelas dificuldades de acesso a
recursos digitais ou à rede em muitas famílias, mas também do impacto de dimensões
como idade, número de crianças em idade escolar em casa, pais em teletrabalho ou
a trabalhar fora, famílias monoparentais, níveis de literacia digital ou
global, etc.
De entre os alunos em maior situação de risco estão os alunos
com necessidades especiais, sobretudo os que necessitam de apoios mais
diferenciados. Muitas das famílias destes alunos experienciam dias de enorme dificuldade para as quais sendo as respostas difíceis algum tipo de apoio pode
ser disponibilizado, à distância como mandam os tempos.
Neste sentido andou bem o ME ao divulgar um conjunto de orientações
para o trabalho a desenvolver pelas EMAEI neste cenário de “ensino à distância“.
Nestas orientações definem-se 4 eixos de intervenção:
Eixo 1 - Apoio aos docentes e técnicos da comunidade
educativa.
Eixo 2 - Continuidade da implementação / Identificação
das medidas de suporte à
aprendizagem e à inclusão definidas ou a definir no
RTP/PEI/PIT
Eixo 3 - Apoio às famílias no contexto da modalidade de
E@D.
Eixo 4 - Articulação com diversos serviços da comunidade.
Sem querer voltar, não é o tempo nem a circunstância, a
discussões em torno do DL 54 e das suas disposições, creio que estes eixos de
intervenção integram numa versão mais clara o que me parece ser o seu papel nas
escolas e agrupamentos. Dito de outra maneira, se retirarmos a referência “no contexto
da modalidade de E@D” eu diria que este é um enunciado interessante e claro do
será o trabalho regular das EMAEI em qualquer circunstância.
Assim, do meu ponto de vista e considerando o cenário em que
vivemos e respeitando os eixos identificados creio que emergem duas grandes
linhas de trabalho mais pertinente.
A primeira seria a colaboração com os docentes para o
trabalho a desenvolver neste contexto particular em que a planificação “existente”
não tem obviamente condições para funcionar. Questões como que objectivos a
manter ou redefinir, que actividades e com que recursos a desenvolver em casa,
que duração, que rotinas de trabalho, que apoio solicitam pais ou de irmãos, etc.,
são alguns dos exemplos em que o que está definido nesta imensidade de RTP/PEI/PIT
poderá necessitar de ser reconfigurado.
Uma segunda linha envolve o apoio aos pais. No entanto,
creio que tanto ou mais do que criar formas de apoio aos pais no sentido de serem
“professores” ou “técnicos” dos seus filhos, ou seja, o apoio dos pais ao “trabalho”
dos filhos no “ensino à distância” julgo que precisamos de apoiar os pais enquanto
pais num quotidiano altamente exigente em matéria de resistência física e
psicológica. São grandes os riscos de cansaço, impotência desânimo, culpabilização,
etc. para mais dentro de um cenário de isolamento. Esta questão quanto a mim é crítica.
Não querendo ser polémico ou provocador, não é de todo a intenção, um contacto regular
próximo e acessível e com alguma disponibilidade para “ouvir” será talvez mais
importante que o cumprimento rigoroso dos RTP/PEI/PIT.
No entanto e como é evidente cada situação sugerirá a melhor
abordagem.
Desejo muito que nestas circunstâncias verdadeiramente
excepcionais o trabalho das EMAEI e de todas a escolas/agrupamentos e de
professores e técnicos corra o melhor possível. O esforça brutal que está a ser
feito parece um bom prenúncio.
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