Hoje, dia 23 de Abril, de acordo com o calendário que
organiza as nossas inquietações cumpre-se o Dia Mundial do Livro.
Os dias de chumbo que vivemos têm múltiplos impactos. A Associação
de Editores e Livreiros estima que esta situação já se traduziu num abaixamento
de 83% nos livros vendidos nas livrarias, um valor impressionante e para o qual
apoios já anunciados parecem ser insuficientes como o serão para muitas outras
áreas.
No entanto, é imprescindível sublinhar e afirmar sempre que
os livros e a leitura são bens de primeira necessidade para gente de todas as
idades donde a insistência
Recordo Marguerite Yourcenar que em “As Memórias de
Adriano” escrevia “A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana.”
São múltiplos os estudos que sublinham o impacto dos livros
e da leitura no trajecto escolar e no trajecto pessoal, como também são muitos
trabalhos que mostram que os hábitos de leitura são pouco consistentes entre as
crianças, adolescentes e jovens como, sem surpresa, também o são entre a
população em geral.
Os livros têm uma concorrência fortíssima com outro tipo de
materiais, jogos ou consolas por exemplo, e que nem sempre é fácil levar as
crianças, jovens ou adultos a outras opções, designadamente aos livros.
As circunstâncias que atravessamos potenciarão esta
concorrência
Apesar de tudo isto também sabemos que é possível fazer
diferente, mesmo que pouco diferente e com mudanças lentas.
Como várias vezes tenho afirmado e julgo consensual, a
questão central, embora importante, não assenta nos livros, bibliotecas
(escolares ou de outra natureza) ou na presença crescente e atractiva e tão
actual dos "tablets", a questão central é o leitor, ou seja, o
essencial é criar leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros
por exemplo, espaços ou recursos, biblioteca, casa ou escola e suportes
diferente, papel ou digital.
Um leitor constrói-se desde o início do processo educativo.
Desde logo assume especial importância o ambiente de literacia familiar e o
envolvimento das famílias neste tipo de situações, através de actividades que
desde a educação pré-escolar e 1º ciclo deveriam, muitas vezes são, estimuladas
e para as quais poderiam ser disponibilizadas aos pais algumas orientações.
Talvez fosse um dos eixos importantes neste cenário de ensino à distância.
Apesar dos esforços de muitos docentes, a relação de muitas
crianças, adolescentes e jovens com os materiais de leitura e escrita
assentará, provavelmente de forma excessiva, nos manuais ou na realização de
trabalhos através da milagrosa “net” proliferando o apressado “copy, paste” ou
resumos de leituras necessárias.
Neste contexto, embora desejasse muito estar enganado, não é
fácil construir miúdos ou adolescentes leitores que procurem livros em casa, em
bibliotecas escolares ou outras e que usem o "tablet" também para ler
e não apenas para uma outra qualquer actividade do da oferta sem fim que
disponibilizam. No entanto, felizmente, realizam-se com regularidade
experiências muito interessantes em contextos escolares, em iniciativas
autárquicas ou conjuntas.
Temos que criar leitores, eles irão à procura dos livros ou
da leitura, mesmo em tempos excepcionais.
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