No âmbito da trágica morte de alguns docentes, ao que parece
em contexto de desempenho profissional, reentra na agenda o mal-estar que
aflige a classe profissional e desejo muito que a questão seja tratada da forma
séria e com a dignidade que exige mas temo que assim não seja.
Como é reconhecido em qualquer país, a profissão docente é
altamente permeável a situações de burnout, estado de esgotamento físico e
mental provocado pela vida profissional, associado a baixos níveis de satisfação
profissional. Um estudo recente da OCDE “Reviews of School Resources: Portugal 2018”
já referia estes riscos.
Os dados de um estudo realizado pela Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova em parceria com a Fenprof sobre as
condições pessoais dos professores considerando dimensões relativas ao
“desgaste emocional, “burnout” incluído”, e sobre as condições em que estes
trabalham - se há cansaço, desânimo, desmotivação ou, pelo contrário, alegria”
em que responderam perto de 16000 docentes também mostraram dados inquietantes e
em linha com outros trabalhos. Quase metade dos docentes que responderam revela
sinais preocupantes de “exaustão emocional”, (20,6% mostram sinais
“preocupantes”, 15,6% apresentam “sinais críticos” e 11,6% têm já “sinais
extremos” de esgotamento) e mais de 40% não se sentem profissionalmente
realizado.
Acresce que, de acordo com a Fenprof existirão perto 12000
docentes em situação de baixa médica sendo que em Março de 2018, dados da ADSE,
estavam mais de seis mil professores com baixa médica há mais de sessenta dias
a aguardar pela realização de junta médica. O ME não divulga o total de
docentes em situação de baixa médica, mas os directores escolares e a as
estruturas sindicais afirmam que tem aumentado.
Foram identificados alguns factores explicativos dos
resultados, a idade dos docentes, as questões relativas à carreira, organização
(burocracia na escola e gestão hierarquizada das escolas) e o comportamento
indisciplinado dos alunos.
Se consideramos uma das razões apontadas, a idade dos
docentes, os indicadores do relatório “Perfil do Docente”, produzido pela
Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência relativo ao ano 2016/2017
e base da informação da OCDE.
No universo da educação pré-escolar apenas 13 profissionais
da rede pública têm menos de 30 anos, 0.1%, enquanto 6034 educadores de
infância, 74% têm 50 ou mais anos. No 1º ciclo no sistema público, entre 24 435
docentes apenas 16 têm menos de 30 anos, 0.1% do total. Do outro lado, 38%,
9298 têm 50 ou mais anos. No 2º ciclo, temos 19 398 docentes dos quais 872 têm menos
de 30 anos, 4.5% e 10271 com 50 anos ou mais, 53%.
No 3º ciclo e secundário, em 63473 professores temos 290 com
menos de 30 anos, 0.5%, e 30242 com 50 anos ou mais, 48%.
Um outro indicador, a idade média, mostra que na educação
pré-escolar é de 52 anos, no 1º ciclo 47 anos, no 2º ciclo 50 anos e no 3º
ciclo e secundário 49 anos.
Se considerarmos o grupo de professores com 40 anos ou mais,
temos 96% na educação pré-escolar, 78% no 1º ciclo, 87% no 2º ciclo e 86% no 3º
ciclo e secundário.
Estes dados, mal-estar, cansaço, exaustão e envelhecimento
configuram a tempestade perfeita e só podem surpreender quem não conhece o
universo das escolas, como acontece com boa parte dos opinadores que pululam
pela comunicação social perorando sobre educação e sobre os professores.
Alguns lembrar-se-ão que em Março de 2018 se realizou em
Lisboa um encontro internacional organizado pelo ME, OCDE e pela organização
Internacional da Educação. O tema central da cimeira foi o bem-estar dos
professores pois “Não se deve perder a oportunidade de colocar o bem-estar dos
professores no centro das políticas de todos os países que participam nesta
cimeira”, afirmou a propósito o secretário-geral da IE, David Edwards e o
bem-estar dos professores terá de ser percebido pelos Governos como “um tema
político de primordial importância”. Sabe-se que se os docentes “se sentem bem
com eles próprios podem fazer uma diferença positiva no ensino dos seus alunos”
lê-se na nota de imprensa.
Na verdade, ser professor é uma das funções mais bonitas do
mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é seguramente uma das mais
difíceis e que mais respeito e apoio deveria merecer. Do seu trabalho depende o
nosso futuro, tudo passa pela educação e pela escola.
E a verdade é que conforme os estudos internacionais de
natureza comparativa mostram o trabalho de professores e alunos, tem revelado
progressos importantes nos últimos anos desencadeando, aliás, uma curiosa luta
pela paternidade desses sucessos que, obviamente, pertence a professores e
alunos.
Repetindo-me, os sistemas educativos com melhores resultados
são, justamente, os sistemas em que os professores são mais valorizados,
apoiados e reconhecidos.
1 comentário:
Muito obrigada pela partilha!!!
Ana Paula Mourão
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