Um texto muito interessante do
Paulo Prudêncio, “A Intemporalidade dos Conflitos da Educação”, publicado no blogue
CORRENTES, leva-me a umas notas também direccionadas para o nosso sistema
educativo e ainda a propósito da questão da conflitualidade.
Não há mesmo volta a dar. O
sistema educativo português parece condenado a uma dimensão de conflitualidade
e instabilidade que lhe retiram serenidade e eficácia. São múltiplos e diários
os exemplos de conflitualidade e raros os entendimentos significativos.
Não sou defensor de falsos
consensos, a chamada paz podre, conseguida a qualquer preço. A conflitualidade em
educação, como noutras áreas, pode e deve ser, também, um factor de desenvolvimento e
crescimento.
Sucessivas equipas do ME também
se têm esforçado pela alimentação desta permanente conflitualidade com medidas
que, apesar de se assumirem, algumas com objectivos importantes e sendo matérias de necessária
mudança, são muitas vezes incompetentes e obedecem a critérios dificilmente
sustentáveis do ponto de vista da qualidade e equidade do sistema público de
educação.
Por outro lado, numa atitude
reactiva, mas também inscrita na profunda luta política em que a educação se
transformou em Portugal, a quase totalidade dos parceiros envolvidos acotovelam-se
na defesa da corporação de interesses que representam acabando, lamentavelmente,
por ser parte do problema mais do que da solução. Toda a gente tem os seus
interesses federados num qualquer sindicato. Isto envolve professores, técnicos
e funcionários, políticos, pais, estruturas de formação de professores,
autarquias, produtores de material e manuais escolares, comunicação social,
etc. Este quadro leva a que, em Portugal, a qualidade na Educação pareça ter de
se desenvolver contra estes grupos e não com estes grupos, com o resultado que
se conhece.
Vai sendo de tempo de entendermos
que a educação é um problema nosso e que, com papéis e modelos diferenciados,
temos de encontrar em conjunto os caminhos para uma formação de qualidade e
exigente dos que menos vêem os seus interesses representados, os alunos e as
famílias, em particular os alunos e as famílias em situação mais vulnerável por
várias razões.
Para isso, é preciso que se
tornem claros os interesses em conflito e que, sobretudo, se perceba que os
miúdos estão nas escolas e exigem que lhes proporcionem contextos educativos
serenos e de qualidade.
É forçoso admitir e entender como
factor de desenvolvimento a existência de diferentes posicionamentos sobre
educação e escolas designadamente no entendimento do que deve ser um sistema
público de educação e ensino. É legítimo que assim seja em sociedades abertas e
democráticas independentemente das nossas posições de natureza mais individual. Recordo como tantas vezes
aqui discordei de dimensões da política educativa de Nuno Crato, Maria de
Lurdes Rodrigues ou da actual equipa do ME, só para citar dois exemplos fortes
entre antigos ocupantes da 5 de Outubro.
A questão não é a existência
destas diferentes visões sobre os caminhos da educação. Os problemas, a
instabilidade, emergem quando essas diferentes visões e posicionamento perdem
de vista os interesses e o bem-estar educativo de todos os alunos e passam a
acomodar, sobretudo, outros interesses sejam partidários, corporativos,
profissionais ou económicos.
É neste quadro que a
conflitualidade corre o risco de ser parte do problema e não uma busca por
soluções. Não está também em causa a legitimidade de alguns destes interesses
mas o enorme risco da sua gestão ameaçar a serenidade e qualidade do trabalho
de alunos e escolas.
Será assim tão difícil encontrar algum
entendimento em questões essenciais na educação?
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