Estava por aqui de volta de umas
leituras e pensamentos que ajudem a preparar mais conversa sobre diferenciação
pedagógica.
Como todos reconhecemos, a
característica mais evidente de qualquer sala de aula ou escola é a
diversidade. Daqui decorre uma questão central, com grupos diversos e escolas
diversas a resposta deve, tem que ser, diferenciada sob pena de não acomodar as
diferenças entre os alunos comprometendo a qualidade, o sucesso e a inclusão.
Todo o sistema educativo e as
políticas educativas devem, pois, servir de suporte a esta visão e às suas
múltiplas implicações.
Ainda a propósito da diversidade
lembrei-me, outra vez, do Mestre Almada.
“Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A
criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção,
outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis,
outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel
quase que não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o
coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma
flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as
tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus
faz uma flor!
José de Almada Negreiros
Obras Completas, 4, Poesia
Não vale a pena tentar construir uma grelha onde caibam todas as linhas com que uma criança, cada criança, pode fazer uma flor. Será uma tarefa impossível.
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