segunda-feira, 8 de julho de 2019

EXAMES, EXPLICAÇÕES E ACESSO AO SUPERIOR


Felizmente, começa a parecer cada vez mais evidente a necessidade de repensar o modelo de acesso ao ensino superior em que os candidatos são ordenados com base num peso muito significativo das notas finais do ensino secundário.
Entre outras questões e como tantas vezes tenho escrito coloca-se a iniquidade das escolas simpáticas, maioritariamente privadas, que inflacionam a avaliação interna dos alunos e o florescimento de um nicho de mercado, as explicações ou centros de estudo, com custos não acessíveis a boa parte das famílias. A peça do Público é ilustrativa deste cenário e importa não esquecer que foi agora revelado o baixo rendimento da maioria das famílias portuguesas.
Parece-me que um caminho a considerar seriamente será entender que a conclusão e certificação de conclusão do ensino secundário e a candidatura ao ensino superior deveriam ser processos separados.
Os exames nacionais destinam-se, conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente, está sediado no ensino secundário. Neste cenário caberiam também as outras modalidades que permitem a equivalência ao ensino secundário, como é o caso do ensino artístico especializado ou recorrente em que também se verificam algumas "especificidades", por assim dizer.
O acesso ao ensino superior é um outro processo que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e estar sob a sua tutela.
A situação existente alimenta este nicho de mercado em que, os estudos mostram-no, as notas de acesso dos alunos do ensino secundário privado não sustentam carreiras escolares no ensino superior no mesmo patamar.
Não está em causa a existência de exames finais no ensino secundário. O que me parece ajustado é que as classificações, internas e externas no ensino secundário deveriam constituir apenas um factor de ponderação a contemplar com outros critérios nos processos de admissão organizados pelas instituições de ensino superior como, aliás, acontece em muitos países.
Sediar no ensino superior o processo de admissão minimizaria muitos dos problemas conhecidos decorrentes do facto da média de conclusão do ensino secundário ser o único critério utilizado para ordenar os alunos no acesso e eliminaria o “peso” das notas inflacionadas em diversas circunstâncias e iniquidade do mercado das explicações.
Enquanto não se verificar a separação da conclusão do secundário da entrada no superior corremos o risco de lidar com situações e negócios que sendo úteis a alguém não o serão, obviamente para a maioria das famílias.

1 comentário:

José António Moreira Rodrigues disse...

Exatamente, só a classificação de 1 ou 2 provas de acesso elaboradas pelo estabelecimento do ensino superior e às quais concorreriam todos os jovens com o 12.º ano concluído independentemente do curso e da escola frequentada: muito simples, nas tenho a certeza absoluta que morrerei sem está única condição justa de acesso estar em vigor.