Achei interessante a peça com a
entrevista a Hedvig Montgomery no Observador centrada no infindável e complexo
mundo a parentalidade nos tempos actuais. O discurso tem, do meu ponto de vista,
uma densidade que nem sempre se encontra na enorme oferta que que tem proliferado
nos últimos anos em que tanta gente parece quere escrever um impossível “Manual
de instrução para educar crianças”. Como sabem, a educação entre nós não é
matéria objecto de “saber”, de conhecimento”, é, basicamente, matéria de “opinião”,
de “achismos”. Em qualquer cidadão que já se tenha cruzado com crianças ou,
sobretudo, que tenha filhos e algum “jeito” para escrita nasce um livro que nos
dá a receita para bem educar as crianças. O problema é que a generalidade das
crianças não cabe num livro de receitas.
A título de exemplo parece-me de
registar, “Estamos sempre a impor limites
para manter a criança segura. Aonde ir (e não ir), quando ir para a cama,
quando ir para a escola, etc. As crianças precisam disto, e precisam que os
pais encontrem os limites apropriados para elas e para as suas idades — do princípio
até ao fim.”
A este propósito, aproveitando a
época de férias no qual, em princípio, haverá mais temo de contacto nas
famílias acrescento umas partindo de uma história que já aqui deixei.
Há algum tempo, também num
período de férias escolares, estava a almoçar com um gaiato da família num
daqueles espaços de restauração que sempre têm gente nova, adivinharam, isso
mesmo, um McDonald's. Numas mesas perto de nós estavam dois casais, gente ainda
nova, que tinha à volta três ou quatro crianças, talvez entre os cinco e os
sete, oito anos.
Bom, nem vos conto, aquelas
alminhas pequenas já teriam almoçado pelo que, enquanto os papás continuavam na
"tranquilidade" do repasto, saltitando entre a conversa, curta, e os
telemóveis, os pequerruchos entretinham-se a gritar, a correr de um lado para o
outro, tropeçando nas mesas, entornando papéis e lixo, enfim, animando o almoço
dos presentes.
Os papás, de vez em quando,
soltavam um distraído e ineficaz, "estejam quietos", "portem-se
bem" e continuavam "tranquilamente" na conversa que, dado o
barulho, não me parecia sequer fácil de manter, daí, o menos exigente apego ao
telemóvel.
Às tantas, tinha uma gaiata com
uns cinco anos a gritar-me aos ouvidos. Olhei para a mocinha com um olhar que
tenho guardado para quando é preciso, um olhar que aprendi com o meu pai quando
me dizia o que deveria ser feito, e ela recuou indo gritar para o pé de
outro comensal bafejado com a sorte de tal experiência.
Fiquei a pensar como gritam estes
miúdos, muitos miúdos, a estes acho que nem os ouvi usar um tom de voz normal,
seja lá isso o que for, apenas gritos.
Há quem diga que é por causa da
educação que levam, ou da falta dela, que os meninos passam o tempo gritar. Talvez não seja um problema de educação, ou, melhor, da falta dela.
Eu creio que os miúdos gritam
muito porque, de uma forma geral, os adultos estão mais surdos. Quando os
miúdos falam mais baixo os adultos não os ouvem e, por isso, os putos desatam a
gritar a ver se alguém lhes liga. O problema é que, muitas vezes, nem assim. Ou então, os adultos senrem que têm de gritar mais alto ... porque são adultos e acosa também não funciona.
Esta história não tem
rigorosamente a ver com superpais, tem apenas a ver com atenção, bom senso e
regulação que pressupõe relação (não é estar ao lado), afecto, regras, limites e autonomia. Será este o
caminho do desenvolvimento saudável.
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