O Expresso divulgou um inquérito
direccionado para os hábitos de consumo de bens culturais realizado a que
responderam cidadãos com idade igual ou superior a 15 anos.
Para além de outros dados
interessantes registava-se que 43% dos inquiridos afirmou não ter lido um livro
nos últimos seis meses.
Este indicador sobre hábitos de
leitura não surpreende, é confirmado por outros trabalhos e também pelo
consumo.
Os bens culturais em Portugal tendem
a ser percebidos como bens supérfluos e não um bem de que necessitamos. O
universo da cultura ainda vive numa apagada e vil tristeza orçamental. Sabe-se
como os museus têm dificuldade em manter portas abertas, para não falar de
investimento e manutenção nos respectivos espólios. As visitas aos museus têm
aumentado mas sobretudo devido aos visitantes estrangeiros. Muito do que se
realiza em Portugal em matéria de cultura está dependente de apoios privados,
carolice ou mecenato. A crise recente agravou a situação.
Por outro lado, e no que respeita
ao mercado livreiro, creio que uma das grandes razões para o preço dos livros
será o reduzido volume de consumo desse bem por parte do cidadão comum. De
facto, à excepção de alguns, poucos, nomes, edições reduzidas dificultarão, por
questões de escala, o abaixamento do preço. Algumas editoras ou grupos
editoriais têm experimentado o lançamento de colecções com obras a mais baixo
custo, mas muitos dos potenciais compradores dessas obras, já as terão
adquirido pelo que, mais uma vez será difícil que sejam bem-sucedidas essas
edições. Se considerarmos o caso particular da poesia a situação pode ser um
pouco mais negra, basta atentar nas montras ou nas listas dos mais vendidos.
Acresce que o mercado assenta
cada vez mais numa meia dúzia de pontos de venda que asseguram o grosso do
"rendimento" e por uma distribuição que trata, muitas vezes, o livro
como apenas um produto e não o distribui como um "bem". Importa ainda
considerar o aumento exponencial das vendas online cujo circuito acaba por
deixar de fora a livraria mais tradicional, espaço de descoberta, troca de
informação e partilha com gente conhecedora que conhece e ama os livros
No entanto e já o tenho aqui
afirmado, penso que a grande aposta deveria ser no leitor e não no livro, ou
seja, criando mais leitores, talvez as edições, que poderiam em todo o caso ser
menos exigentes em papel e grafismo, ficassem mais acessíveis como se verifica
noutros países. Esta batalha ganha-se na família, na escola e na comunicação
social.
Como várias vezes tenho afirmado
e julgo consensual, a questão central, embora importante, não assenta nos
livros, bibliotecas (escolares ou de outra natureza) ou na presença crescente e
atractiva dos "tablets", a questão central é o leitor, ou seja, o
essencial é criar leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros
por exemplo, espaços ou recursos, biblioteca, casa ou escola e suportes
diferente, papel ou digital. Estes leitores talvez possam alimentar as
livrarias.
Creio que também estaremos de
acordo que um leitor se constrói desde o início do processo educativo. Desde
logo assume especial importância o ambiente de literacia familiar e o
envolvimento das famílias neste tipo de situações, através de actividades que
desde a educação pré-escolar e 1º ciclo deveriam, muitas vezes são, estimuladas
e para as quais poderiam ser disponibilizadas aos pais algumas orientações.
Nos primeiros anos de
escolaridade é fundamental uma relação estreita com a leitura, não só com os
aspectos técnicos, por assim dizer, da aprendizagem da leitura e da escrita da
língua portuguesa, mas um contacto estreito e regular com a actividade de
leitura acomodando motivações e culturas diferenciadas ados alunos e das famílias.
Só se aprende a ler, lendo, só se
aprende a escrever, escrevendo, etc.
Recordo um estudo conhecido em
2015 realizado na Universidade do Minho que apontava para que 10% dos alunos do
ensino secundário nunca leu um livro até ao fim. Não creio que a situação se tenha
alterado significativamente e mesmo no ensino superior os hábitos de leitura
dos alunos não parecem ser muito robustos.
É certo que existe em actividade
o Plano Nacional de Leitura que, parece, estará a dar alguns resultados, mas na
comunicação social generalista o espaço dedicado aos livros é pouco
significativo, ainda se mantém veremos até quando o JL, e na comunicação
televisiva o panorama não é melhor e o que existe parece pouco eficaz.
Insisto, é um problema de
leitores não de livros, aliás e estranhamente, o volume de obras publicadas é significativo, o que é motivo de reflexão.
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