quarta-feira, 31 de julho de 2019

DA PROMOÇÃO DO SUCESSO EDUCATIVO


A propósito do anúncio da aprovação do programa municipal “Secundário para todos” no município de Lisboa que disponibiliza uma verba de cinco milhões de euros “para ajudar a combater e prevenir o insucesso e o abandono escolar precoce”, algumas notas.
Em primeiro lugar quero reafirmar sem qualquer margem para dúvida que está estudada e reconhecida de há muito a associação fortíssima entre o investimento em educação e investigação e o desenvolvimento das comunidades, seja por via directa, qualificação e produção de conhecimento, seja por via indirecta, condições económicas, qualidade de vida e condições de saúde, por exemplo. Assim, por princípio, os custos da educação não são despesa, são investimento, o que mais retorno e bem-estar traz ao país e o caminho mais sólido para construir o futuro.
Mas, os velhos têm sempre um mas, o modelo que está a ser seguido pode conter alguns riscos na cultura e praxis política que temos.
São múltiplos os programas municipais de promoção do sucesso, alguns que conheço dotados com orçamentos muito significativos no âmbito do Quadro Comunitátio  Portugal 2020 e apresentam um elenco interminável de iniciativas de múltipla natureza com o objectivo último de promoção do sucesso educativo. Aliás, tenho dado algumas colaborações de natureza pontual a alguns destes projectos.
A minha questão … é qual a capacidade transformadora e sustentada destes projectos, com frequência vindo de fora para as escolas com iniciativas e intervenções não integradas com as equipas e recursos escolares, aliás, conheço situações em que as escolas ou agrupamentos nem sequer aderem. Não estará em causa o empenho ou a competência dos técnicos envolvidos mas, sobretudo, o modelo de funcionamento.
O investimento em educação terá de ter sempre como eixo central a escola/agrupamento no âmbito de uma reconhecida autonomia com projectos com horizonte temporal passível de criar, de facto, transformação e mudança.
Iniciativas de natureza avulsa, recursos disponibilizados sem garantia de continuidade, intervenção sistemática de agentes exteriores à escola agenciados pelas iniciativas municipais terão, provavelmente, um potencial de mudança mais baixo de … sucesso duradouro e estrutural.
É verdade e registo com muito agrado, o empenho e competência do trabalho desenvolvido por muitos agrupamentos/escolas e professores no âmbito destes projectos.
Importa sublinhar que a autonomia das escolas e agrupamentos é, reconhecidamente, uma ferramenta de desenvolvimento da sua qualidade, pois permite que os seus recursos, modelos de organização e funcionamento se ajustem às especificidades de contexto e, assim, melhor possam responder à população que servem, a toda a população, evidentemente, de acordo com as suas necessidades.
As autarquias têm, evidentemente, um papel crítico nas diferentes dimensões da vida das comunidades que servem. No entanto, a “tutela”  e liderança do trabalho educativo, pedagógico, de promoção do sucesso escolar deverão ser sediados na escola sendo, obviamente, o trabalho desenvolvido em colaboração com todos os múltiplos actores no processos de desenvolvimento mesmo que de forma mais indirecta.
Por outro lado, estes múltiplos projectos carecem de uma regulação eficaz que permita perceber mesmo se estamos a construir sucesso ou a “fabricar” sucesso.

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