Foram divulgados os resultados da primeira fase dos exames nacionais do secundário. À excepção de Física e
Química, Biologia e Geologia, a média subiu em todas as disciplinas. Também a
média foi positiva em todas as disciplinas embora tenhamos um 9.8 a Filosofia.
Antes de se desencadearem os
testes de paternidade relativamente à responsabilidade pelos resultados importa
considerar que neste âmbito a única ilação possível é que o trabalho de alunos
e professores foi melhor sucedido. No entanto, também não esqueço que é
reconhecida a forma como os exames tendem a ser também politicamente usados
como forma de validação das políticas públicas, melhores resultados validarão
as decisões políticas e a dificuldade dos exames é, obviamente, fruto de uma decisão.
Veja-se a recorrente opinião diversa de grupos profissionais de “famílias
políticas” diferentes na apreciação da dificuldade dos mesmos exames.
De qualquer forma registe-se a
melhoria de resultados. Algumas notas breves sobre os exames em torno de três
questões, existência, modelo e função.
Creio que no contexto actual a
existência de exames nacionais no ensino secundário parece-me justificada como
forma de regulação advinda de uma avaliação externa associada à avaliação
interna que como se sabe é contaminada pela reconhecida “simpatia de algumas
escolas, sobretudo privadas.
No que respeita ao seu modelo
creio que seria de reflectir no sentido de caminhar para modelos de exame mais
integrados em matéria curricular e menos centrados em mobilização instrumental
de conhecimentos e mais diversificados nos dispositivos e suportes. Talvez
conseguíssemos minimizar a existência de um ensino fundamentalmente centrado na
preparação para o exame.
A terceira questão, a função,
parece também carecer de reflexão e mudança como muitas vezes tenho referido.
Contrariamente ao que se passa em
muitos países, os resultados dos exames têm um peso muito significativo no
acesso ao ensino superior o que contamina e enviesa aquela que me parecer a sua
função central. Os exames nacionais destinam-se, conjugados com a avaliação
realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar produzido
pelos alunos do ensino secundário. Não deveria ser mais do que isto.
Dado o que muitas vezes vejo
escrito, defender que esta questão seja repensada não implica defender que o
desempenho no ensino secundário não deve ser valorizado no processo de
candidatura ao ensino superior, claro que tem de ser considerado e os exames
fazem sentido.
No entanto, e é “apenas” disso
que se trata, também me parece que nesse processo devem entrar outros
critérios, públicos e claros, e, naturalmente, sujeitos a monitorização
rigorosa. Parece-me mais justo.
Esta mudança, em linha com o que
se passa noutros sistemas educativos, minimizaria muitos dos problemas
conhecidos decorrentes do facto da média de conclusão do ensino secundário ser
o único critério utilizado para ordenar os alunos no acesso e eliminaria o
“peso” das notas inflacionadas em diversas circunstâncias por escolas “simpáticas,
fenómeno repetidamente referenciado. Não é também dispiciendo referir o mercado das explicações deste processo decorre e alimenta desigualdade de oportunidades.
Minimizaria também a forma como é
percebida pelos alunos a importância de todas as disciplinas do secundário que,
recordemos, representa o cumprimento da escolaridade obrigatória, o acesso a um
conjunto alargado de conhecimentos e competências. O ensino secundário não deve
ser o ensino pré-superior.
Será que se chegará a algum
consenso sobre algumas destas questões sem pressa e devidamente estudadas?
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