Como tem acontecido regularmente estive hoje com um significativo
número de docentes, desta vez no Agrupamento de Escolas Passos Manuel, a conversar sobre diferenciação
e sala de aula. Foi curioso, desde logo, voltar à escola onde realizei o meu exame de
1º ciclo do liceu como na altura se designava, lá para meados dos anos 60.
A temática da diferenciação pedagógica não é nova, longe
disso, mas ganhou visibilidade por ter sido definida no DL 54 como uma das medidas
universais de apoio à aprendizagem a par, por exemplo, das acomodações
curriculares o que, do meu ponto de vista, enviesa o entendimento as acomodações curriculares integram o trabalho pedagógico diferenciado e não estão a par num elenco de medidas, ainda que universais.
Também me parece que esta questão da forma como tantas vezes é
abordada corre o risco de perder significado e entra como é mais habitual entre
nós em modo “cada cabeça, sua sentença” ou, de outra forma, “cá para mim,
diferenciação é…”
Não tenho a pretensão do discurso definitivo, do manual, não creio que
exista, encaro estes encontros como espaço de reflexão que, lamentavelmente e
do meu ponto de vista são insuficientes nas escolas em parte devido à carga
burocrática e também a questões e modelos de organização e funcionamento. Assim
e recuperando outros textos, umas notas.
Como todos reconhecemos, a característica mais evidente de qualquer
sala de aula ou escola é a diversidade. Esta é a questão central, com grupos
diversos e escolas diversas a resposta deve, tem que ser, diferenciada sob pena
de não acomodar as diferenças entre os alunos comprometendo a qualidade, o
sucesso e a inclusão.
Todo o sistema educativo e as políticas educativas devem servir de
suporte a esta visão e às suas múltiplas implicações.
Indo um pouco mais longe nas práticas pedagógicas e como nestas se
traduz um princípio de diferenciação umas notas breves sublinhando que alterar
alguns aspectos não tem a ver com “inovação” ou com “novos paradigmas”,
terminologia cuja utilização frequente me irrita um bocado. A questão central
pode ser alterar e não inovar, são de há muito conhecidas boas práticas que
diariamente são mobilizadas em muitas escolas quase sempre com pouca
divulgação, até mesmo interna.
Uma primeira nota sobre o equívoco habitual de que diferenciação é
sinónimo de trabalho individual. Considerando as dificuldades (e o
desajustamento) de fazer assentar o trabalho educativo no trabalho individual,
encontra-se assim um suposto “impedimento” à diferenciação. De facto,
diferenciar não é igual a trabalho individualizado, pelo contrário, implica
muito fortemente a aprendizagem cooperada e a cooperação entre professores.
Aliás, verificando-se desejavelmente a aprendizagem individual por parte de
cada aluno a sua construção é social pelo que mesmo que fosse possível o
recorrer exclusivamente ao trabalho individual, (o que nem com turmas mais
pequenas aconteceria) não seria a melhor forma de trabalhar.
Assim, só o desenvolvimento de formas diferenciadas de organizar os
processos educativos, de gerir a sala de aula, de avaliar, de gerir a estrutura
curricular ela própria com uma concepção e conteúdos que sejam amigáveis desta
diferenciação, de comunicar, de cooperar com pais e encarregados de educação,
etc., poderá permitir responder tão bem quanto possível à diversidade dos
alunos e contextos.
Nesta perspectiva, a organização e funcionamento de uma sala de aula
da forma mais ajustada a recursos e necessidades contemplar alguma foram de
diferenciação em dimensões como: Planeamento educativo/gestão curricular (aqui
entra a “flexibilidade curricular” mas com conteúdos e organização dos
currículos adequados, a flexibilidade curricular é mais do que as escolas,
felizmente poderem desenhar conteúdos curriculares, é que a flexibilidade se
desenhe dentro da sala de aula); Organização do trabalho dos alunos – as
múltiplas formas de organizar o trabalho dos alunos relativamente às situações
de aprendizagem; Clima de aprendizagem – a qualidade e nível de interacção e
relacionamento social entre alunos e entre professor e alunos; Avaliação – os
processos relativos à avaliação e regulação do processo de ensino e
aprendizagem; Actividades / Tarefas de aprendizagem – a escolha das diferentes
tarefas ou situações de aprendizagem a propor aos alunos e Materiais e Recursos
– a definição, utilização e gestão dos materiais e recursos que funcionarão
como suporte ao processo de ensino/aprendizagem.
Mas para que isto seja consistente e não localizado também sabemos que
o sucesso se constrói identificando e prevenindo dificuldades de forma precoce,
com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de
apoio eficazes, competentes e suficientes a alunos e professores, com a
definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e
coerente e modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento
das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, com a
valorização do trabalho dos professores, com práticas de diferenciação e
expectativas positivas face ao trabalho e face aos alunos, com melhores níveis
de trabalho cooperativo e tutorial, quer para professores quer para alunos,
etc.
Sabemos tudo isto. Nada é novo.
A conversa foi estimulante e até pelo dia quente que se vive em Lisboa
foi bonito o “Mergulho no Mar”, uma iniciativa que envolveu alunos do
pré-escolar, 1º e 2º ciclo do Agrupamento Passos de que vos deixo uma pequeníssima
amostra. A diferenciação também passa por aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário