A propósito do anúncio da
aprovação do programa municipal “Secundário para todos” no município de Lisboa
que disponibiliza uma verba de cinco milhões de euros “para ajudar a combater e
prevenir o insucesso e o abandono escolar precoce”, algumas notas.
Em primeiro lugar quero reafirmar
sem qualquer margem para dúvida que está estudada e reconhecida de há muito a
associação fortíssima entre o investimento em educação e investigação e o
desenvolvimento das comunidades, seja por via directa, qualificação e produção
de conhecimento, seja por via indirecta, condições económicas, qualidade de
vida e condições de saúde, por exemplo. Assim, por princípio, os custos da
educação não são despesa, são investimento, o que mais retorno e bem-estar traz
ao país e o caminho mais sólido para construir o futuro.
Mas, os velhos têm sempre um mas,
o modelo que está a ser seguido pode conter alguns riscos na cultura e praxis política
que temos.
São múltiplos os programas
municipais de promoção do sucesso, alguns que conheço dotados com orçamentos muito
significativos no âmbito do Quadro Comunitátio Portugal 2020 e apresentam um elenco interminável
de iniciativas de múltipla natureza com o objectivo último de promoção do
sucesso educativo. Aliás, tenho dado algumas colaborações de natureza pontual a
alguns destes projectos.
A minha questão … é qual a capacidade
transformadora e sustentada destes projectos, com frequência vindo de fora para as escolas
com iniciativas e intervenções não integradas com as equipas e recursos
escolares, aliás, conheço situações em que as escolas ou agrupamentos nem sequer aderem. Não estará em causa o empenho ou a competência dos técnicos envolvidos
mas, sobretudo, o modelo de funcionamento.
O investimento em educação terá
de ter sempre como eixo central a escola/agrupamento no âmbito de uma
reconhecida autonomia com projectos com horizonte temporal passível de criar,
de facto, transformação e mudança.
Iniciativas de natureza avulsa,
recursos disponibilizados sem garantia de continuidade, intervenção sistemática
de agentes exteriores à escola agenciados pelas iniciativas municipais terão,
provavelmente, um potencial de mudança mais baixo de … sucesso duradouro e
estrutural.
É verdade e registo com muito
agrado, o empenho e competência do trabalho desenvolvido por muitos
agrupamentos/escolas e professores no âmbito destes projectos.
Importa sublinhar que a autonomia
das escolas e agrupamentos é, reconhecidamente, uma ferramenta de
desenvolvimento da sua qualidade, pois permite que os seus recursos, modelos de
organização e funcionamento se ajustem às especificidades de contexto e, assim,
melhor possam responder à população que servem, a toda a população,
evidentemente, de acordo com as suas necessidades.
As autarquias têm, evidentemente,
um papel crítico nas diferentes dimensões da vida das comunidades que servem. No entanto, a “tutela” e liderança do trabalho educativo, pedagógico, de promoção do sucesso
escolar deverão ser sediados na escola sendo, obviamente, o trabalho desenvolvido em
colaboração com todos os múltiplos actores no processos de desenvolvimento
mesmo que de forma mais indirecta.
Por outro lado, estes múltiplos
projectos carecem de uma regulação eficaz que permita perceber mesmo se estamos a construir sucesso ou a “fabricar” sucesso.