No âmbito de um dispositivo designado
por Compromisso de Cooperação para o Sector Social e Solidário para o Biénio
2017-2018 torna-se possível o apoio do Estado para que creches e jardins-de-infância ligados a Instituições Particulares de Solidariedade Social
alarguem o horário de funcionamento incluindo sábados.
A medida surge na sequência da introdução
de turnos na Autoeuropa que obrigam ao trabalho ao sábado.
Como diz Camões “todo o mundo é
composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”.
No sector privado a situação não
é nova. Em Dezembro passado a Visão divulgou um trabalho sobre algo que parece
estar a tornar-se cada vez mais frequente, a existência de creches e
jardins-de-infância a funcionar 24 horas por dia, durante 7 dias por semana.
Por razões diversas mais famílias
sentem esta necessidade. Segundo o trabalho da Visão na zona da Grande Lisboa
existirão mais de mil crianças envolvidas em rotinas menos habituais na
frequência de instituições desta natureza mas o número de vagas disponíveis
para este tipo de resposta será três vezes superior. Ao que parece a oferta
será inferior à procura e muitas crianças ficam também aos fins-de semana,
férias ou no Natal.
É mais um sinal dos tempos.
Vivemos tempos de mudança
acentuada nos estilos de vida, de alteração de valores e prioridades, de menor
regulação do trabalho, chamam-lhe “flexibilização”, de competição e
“produtividade”, de comunidades sempre em movimento, em “trânsito”, sem parança
e com rotinas em mutação.
Muitas famílias, muitas vezes sem
capacidade de escolha ou também por opção, são envolvidas nesta engrenagem e,
naturalmente, procuram soluções que minimizem as consequências. O mercado,
evidentemente, procura responder a novas necessidades.
Também sobre as crianças e o seu
dia-a-dia estes tempos produzem efeitos que em muitas circunstâncias não são
particularmente amigáveis.
Acredito no esforço e competência
das instituições e dos profissionais no sentido de proporcionar a melhor
qualidade possível na vida das crianças que a esta resposta recorrem. Sei
também que as crianças têm de uma forma geral uma resiliência e capacidade de
adaptação extraordinárias embora seja necessário estarmos permanentemente
atentos ao seu funcionamento.
No entanto, também sabemos que
rotinas, família (no sentido dos laços de afecto e vinculação), estabilidade,
segurança, são necessidades básicas e imprescindíveis para o desenvolvimento
das crianças. Apesar de não esquecer que mesmo nas circunstâncias mais
habituais também algumas famílias ou práticas institucionais podem ser tóxicas
ou negligentes.
Chegou a vez de o Estado também
dar o seu contributo para este trajecto.
No entanto e por isto tudo … vale
a pena pensar nos caminhos que queremos ou podemos percorrer.
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