segunda-feira, 16 de abril de 2018

A NOTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA VOLTA A CONTAR PARA MÉDIA FINAL NO SECUNDÁRIO


Com a entrada em vigor dos novos currículos do ensino básico e secundário, cujo diploma, está em consulta pública, a nota de Educação Física volta a entrar no cálculo da média final do ensino secundário e, assim, contribuir para a média de acesso ao ensino superior.
Esta decisão, já anunciada pelo ME em 2016, é ainda objecto de alguma discussão como em educação não pode deixar de acontecer. Alguns defendem a bondade da medida, outros entendem que tal prejudica os alunos que “não têm jeito” para o desporto”  o que potencia um enviesamento na média de acesso ao superior. No entanto, poderá acontecer também falta de "jeito para a Filosofia ou para o Inglês" sem que se justifique retirar estas disciplinas do cálculo da média de acesso.
A questão central e que alimenta a discussão está no dispositivo de acesso ao ensino superior que como defendo de há muito deveria ser repensado. A conclusão e certificação do ensino secundário e a candidatura ao ensino superior deveriam ser processos separados.
Os exames nacionais destinam-se, conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente, está sediado no ensino secundário. Neste cenário caberiam todas as disciplinas frequentadas incluindo a educação física, naturalmente, e também as modalidades que permitem a equivalência ao ensino secundário, como o ensino recorrente.
O acesso ao ensino superior é, deveria ser, um outro processo que se desenrolaria sob a responsabilidade do ensino superior.
Recordo que recentemente a OCDE, através de Andreas Schleicher, defendia o repensar do acesso ao ensino superior assentar exclusivamente nos resultados do secundário. Esta opinião é também subscrita pelos responsáveis pela Associação Nacional de Directores e Agrupamentos de Escolas Públicas e da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, Filinto Lima e Manuel Pereira, bem como pela CONFAP.
No quadro actual parece ainda de considerar o continuado e reconhecido inflacionar de notas da avaliação interna, sobretudo em escolas privadas, de forma a melhorar as médias de candidatura.
Os exames nacionais destinam-se como disse acima, conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente, está sediado no ensino secundário. Neste cenário caberiam também as outras modalidades que permitem a equivalência ao ensino secundário, como é o caso do ensino artístico especializado ou recorrente em que também se verificam algumas "especificidades", por assim dizer.
O acesso ao ensino superior é um outro processo que deveria ser da responsabilidade do ensino superior. A situação existente, não permite qualquer intervenção consistente do ensino superior na admissão dos seus alunos, a não ser a pouco frequente definição de requisitos em alguns cursos, o que até torna estranha a passividade aparente por parte das universidades e politécnicos, instituições sempre tão ciosas da sua autonomia. Parece-me claro que o ensino superior fazendo o discurso da necessidade de intervir na selecção de quem o frequenta não está interessado na dimensão logística e processual envolvida.
Os resultados escolares do ensino secundário deveriam constituir apenas um dos critérios, certamente com peso, a contemplar com outros critérios nos processos de admissão organizados pelas instituições de ensino superior como, aliás, acontece em muitos países.
Será que se chegará a algum entendimento sobre esta questão?

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