Com chamada a primeira página o
JN divulga que, de acordo com a ADSE, em Março estavam mais de seis mil professores com baixa médica há mais de sessenta dias a aguardar pela realização de junta
médica. O ME não divulga o total de docentes em situação de baixa mas os
directores escolares e a as estruturas sindicais afirmam que tem aumentado.
Estarão recordados que em Março se
realizou em Lisboa um encontro internacional organizado pelo ME, OCDE e pela
organização Internacional da Educação. O tema central da cimeira foi o
bem-estar dos professores pois “Não se deve perder a oportunidade de colocar o bem-estar
dos professores no centro das políticas de todos os países que participam nesta
cimeira”, afirmou a propósito o secretário-geral da IE, David Edwards e o
bem-estar dos professores terá de ser percebido pelos Governos como “um tema
político de primordial importância”. Sabe-se que se os docentes “se sentem bem
com eles próprios podem fazer uma diferença positiva no ensino dos seus alunos”
lê-se na nota de imprensa.
Escrevi na altura que a cimeira
acontecia em Portugal num tempo em que certamente a boa parte dos docentes não
se sentirá globalmente valorizada embora, os estudos o confirmam, globalmente
gostem da profissão, tal como os alunos apreciam positivamente o seu trabalho.
Por outro lado, é reconhecido em
qualquer sistema educativo que a profissão docente é altamente permeável a
situações de burnout, estado de esgotamento físico e mental provocado pela vida
profissional, associado a baixos níveis de satisfação profissional.
Recordo um estudo recente
realizado pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA-IU) segundo o
qual cerca de 30% dos perto de 1000 professores inquiridos revela risco de
burnout.
Os professores mais velhos, do
ensino secundário ou os que lidam com alunos com necessidades educativas
especiais apresentam níveis mais elevados de burnout e sentem mais a falta de
reconhecimento profissional.
Como causas mais contributivas
para este cenário de stresse profissional são identificadas turmas com elevado
número de alunos, o comportamento indisciplinado e desmotivação dos alunos, a
pressão para os resultados, insatisfação com as condições de desempenho, carga
horária e burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de apoio e suporte
das lideranças da escola.
Conforme o Relatório “Perfil do
Docente”, divulgado em Julho de 2016 e considerando dados de 14/15 apenas 1.4%
dos docentes que leccionam em escolas públicas têm menos de 30 anos, não chegam
a 500.
Acresce que o grupo etário com
mais de 50 anos é o mais representado, 39.5%. Se a este grupo adicionarmos o
escalão imediatamente anterior, 40 aos 49, temos que 77,3% dos docentes estão
nos dois grupos mais velhos.
Se juntarmos o baixo número de
saídas para aposentação e como escrevia há algum tempo num país preocupado com
o futuro este cenário faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e
agir em conformidade. Acresce ainda os efeitos de grave situação relativa à
carreira, à progressão e ao estatuto salarial.
Na verdade, os dados só podem
surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa
parte dos opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre
educação e sobre os professores. Aliás, esta situação verifica-se noutros países,
sendo que para além dos professores, os profissionais de saúde e de apoios
sociais também integram os grupos profissionais mais sujeitos a stresse e
burnout.
Este quadro é inquietante, uma
população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais de desgaste.
Também se sabe que as oscilações
da demografia discente não explicam a saída de milhares de professores do
sistema, novos e velhos, como também não explicam a escassíssima renovação,
contratação de docentes novos. Sem estranheza, no universo do ensino privado é
bastante superior a presença de docentes mais jovens. Não esqueçamos ainda a
deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas
décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um
desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que
sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado processo de
desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e nas
relações que a comunidade estabelece com estes profissionais.
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo
emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada
vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida,
cansada que se sente desvalorizada, pouco apoiada, e que muitas vezes,
demasiadas vezes, pergunta "Quanto tempo é que te falta?"
Na verdade, ser professor é uma
das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é
seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito e apoio deveria merecer.
Do seu trabalho depende o nosso futuro, tudo passa pela educação e pela escola.
E a verdade é que conforme os
estudos internacionais de natureza comparativa mostram o trabalho de
professores e alunos, tem revelado progressos importantes nos últimos anos
desencadeando, aliás, uma curiosa luta pela paternidade desses sucesso que,
obviamente, pertence a professores e alunos.
Os sistemas educativos com
melhores resultados são, justamente, os sistemas em que os professores são mais
valorizados, apoiados e reconhecidos.
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