No Público encontra-se um conjunto
de trabalhos sobre a utilização de cães no apoio a crianças com diagnóstico de
autismo. São referidos aspectos como o aumento desta utilização e alguns bons
resultados mas também a insuficientemente fundamentada validade científica desses resultados. As alterações no comportamento e competências das pessoas resultam sempre de um conjunto complexo de variáveis o que torna difícil definir com rigor relações de causa-efeito considerando apenas um factor. No entanto, tal dificuldade não nega que qualquer das variáveis possa estar a associada a uma melhoria na situação.
Nos últimos anos tem emergido uma
multiplicidade de abordagens desta natureza e retomo algumas notas que tenho consciência e assumo que de
alguma forma podem ser delicadas mas o muito que já observei e acompanhei
levam-me a insistir. Não se dirigem a esta situação em particular mas a propósito dela.
Em primeiro lugar não tenho a
menor dúvida sobre a seriedade, competência ou empenho dos profissionais
envolvidos nestas actividades ou outras abordagens que se entendam terapêuticas
e destinadas a pessoas com deficiência física ou mental ou com
problemas de outra natureza.
Também não duvido que em muitas
circunstâncias as crianças, jovens e adultos que nelas participam registem
alterações positivas. Quando pessoas em situação mais vulnerável recebem
atenção, estímulos, apoio e envolvimento, por princípio, notar-se-á melhoria na
sua condição, independentemente da actividade em que estão envolvidos, dentro do
que sejam actividades racionais e aceitáveis com é evidente.
Na verdade, estas notas relevam,
fundamentalmente, de que, como referi, nos últimos anos e no que respeita aos problemas, de
diferentes âmbitos e gravidade, que afectam as crianças e adolescentes,
sobretudo mas não só, tem vindo a emergir uma gama sem fim de abordagens
"terapêuticas" da mais variada natureza das quais, numa espécie de
pensamento mágico, se anunciam ou esperam resultados milagrosos que nem sempre
são comprovados com validade científica, embora muitas vezes se "atestem"
melhoras que, evidentemente, alimentam o recurso a esta gama do que eu chamo a
"tudoterapia", ou seja, tudo é ou pode ser terapêutico.
A minha inquietação decorre,
essencialmente, do que tenho verificado sobretudo com pais que se envolvem em algumas destas experiências. As suas fragilidades e impotência face aos
problemas que os filhos evidenciam, a vontade inesgotável de tentar ou
experimentar o que estiver ao seu alcance para que os problemas se atenuem ou
desapareçam, leva-os a investirem imenso nessas abordagens que, na verdade, não
são milagrosas e não têm resultados garantidos.
Para além dos custos, da
frustração em caso de insucesso, o mais provável em boa parte da
"tudoterapia", alguns pais podem ainda sentir-se culpados porque, por
exemplo, devido a circunstâncias económicas ou de acessibilidade, não podem
providenciar tais "terapêuticas" aos seus filhos. No Público
refere-se a existência de 240 pedidos em lista de espera o que, naturalmente, é
mais uma fonte de inquietação nas famílias envolvidas.
A "evolução" que por
vezes se regista em algumas situações, pode dever-se, por exemplo, a um efeito
placebo, a uma maior atenção estímulo proporcionado à criança ou adolescente e
não decorrer das propriedades terapêuticas do procedimento, para as quais, como
referi, não existe nas mais das vezes, validade científica.
Neste cenário, os técnicos têm um
papel fundamental, embora difícil, de contenção das angústia e necessidades dos
pais e no sentido de procederem a abordagens sérias e realistas sobre os
objectivos, limites e resultados esperados das intervenções disponíveis e sustentadas,
ajudando e orientando as famílias nas escolhas e decisões.
Finalmente, referir que a grande questão está centrada na disponibilidade de recursos competentes e adequados para todas as crianças com algum tipo de dificuldade. Não é privilégio, é direito.
Finalmente, referir que a grande questão está centrada na disponibilidade de recursos competentes e adequados para todas as crianças com algum tipo de dificuldade. Não é privilégio, é direito.
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