sexta-feira, 4 de setembro de 2015

CABEÇAS SEM DONO

Há poucos dias trouxe aqui uma história das minhas viagens por Moçambique. Hoje deixo outra. Nessa viagem estive a trabalhar em Inhambane, a terra da boa gente.
Uma noite estava à conversa com o meu anjo da guarda naquela estadia, o Velho Bata, um homem que como ele dizia, “sabia escrever nem que fosse com uma Parker e era capaz de ler até à última letra”.
Não me recordo porquê mas na conversa entraram aquelas pessoas que passam a vida a querer agradar aos outros, que dizem, pensam e fazem o que alguém mandar, de pessoas que “não existem” por si, que não têm ideias próprias, etc. Depois de umas trocas de exemplos e considerações sobre as nossas experiências de vida nesta matéria, o velho Bata rematou.
Sabe, há pessoas que têm a cabeça guardada numa gaveta e quando têm que sair e pôr um chapéu, vão buscar a cabeça para o segurar, são umas cabeças sem dono.

Esta coisa de uma cabeça sem dono pareceu-me curiosa. De vez em quando ainda me interrogo se consigo mesmo ser o dono da minha cabeça, é inquietante a quantidade de cabeças sem dono e mais inquietante ainda como tanta gente tenta ser o dono da cabeça dos outros.

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