Há poucos dias trouxe aqui uma
história das minhas viagens por Moçambique. Hoje deixo outra. Nessa viagem
estive a trabalhar em Inhambane, a terra da boa gente.
Uma noite estava à conversa com o
meu anjo da guarda naquela estadia, o Velho Bata, um homem que como ele dizia, “sabia
escrever nem que fosse com uma Parker e era capaz de ler até à última letra”.
Não me recordo porquê mas na conversa
entraram aquelas pessoas que passam a vida a querer agradar aos outros, que
dizem, pensam e fazem o que alguém mandar, de pessoas que “não existem” por si,
que não têm ideias próprias, etc. Depois de umas trocas de exemplos e
considerações sobre as nossas experiências de vida nesta matéria, o velho Bata
rematou.
Sabe, há pessoas que têm a cabeça guardada numa gaveta e quando têm que
sair e pôr um chapéu, vão buscar a cabeça para o segurar, são umas cabeças sem
dono.
Esta coisa de uma cabeça sem dono
pareceu-me curiosa. De vez em quando ainda me interrogo se consigo mesmo ser o
dono da minha cabeça, é inquietante a quantidade de cabeças sem dono e mais inquietante
ainda como tanta gente tenta ser o dono da cabeça dos outros.
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