Esta campanha eleitoral trouxe
uma novidade, não a que esperávamos, a apresentação e discussão aberta, sem manhosices,
demagogia ou despudor de propostas realistas e de projectos que tenham como objectivo
global o bem-estar de todos os portugueses, mas a divulgação diária de
sondagens, tendências de voto, tracking poll, o que quer que seja que lhes chamem. Os
resultados díspares e a forma como são usados inscrevem-se, evidentemente, numa
campanha das mais tóxicas a que temos assistido.
A discussão sobre a fiabilidade,
a validade e a consequente interpretação dos resultados, sobretudo em matéria
de política, é eterna, tal como a guerra de números em dias de greve.
Os técnicos responsáveis garantem
o carácter científico do seu trabalho e, portanto, a sua credibilidade.
As figuras ou entidades que
aparecem mais beneficiadas não deixam, claro, de lhes emprestar crédito e
assumir que elas espelham a opinião ajustada do universo inquirido. Finalmente,
as figuras ou entidades cujos indicadores são menos favoráveis entendem por bem
duvidar, claro, dos resultados quer ao nível do “rigor científico” quer, versão
mais pesada, de alguma manipulação intencional dos resultados. Sempre assim
foi, sempre assim será, creio por isso que resta aquela velha máxima, as
sondagens valem o que valem.
Não me refiro aos resultados, embora
me pareçam curiosos, deixo isso para os especialistas, os politólogos, os
opinadores e, naturalmente, para os envolvidos até porque se vai verificando
alguma volatilidade de intenções e apreciações ao sabor da espuma dos dias.
Ainda estamos a alguns dias do tempo da decisão
A minha questão no que respeita
às sondagens, remete para uma ideia que há já bastante tempo aqui referi.
Sabendo e reconhecendo o peso que a opinião publicada tem na construção da
opinião pública, a opinião com voz, o universo que é normalmente inquirido nas
sondagens e nas opiniões, creio que é de estar muito e cada vez mais atento ao
que “NÃO DIZEM” algumas franjas sociais que habitam a periferia da vivência, a
sobrevivência, os que normalmente não são inquiridos.
A este respeito, cito Sam the Kid
que, num fenómeno interessante, integra uma área do hip hop que parece estar a
ocupar o espaço do que há algumas décadas chamávamos música de intervenção e
que sem raízes musicais portuguesas (essa a grande diferença) assume um
discurso lúcido, atento, crítico e, por isso, menos integrado.
"Eu sou a percentagem que a sondagem nunca mostra
Eu sou a mente exausta da miragem mal composta
Eu sou a indiferença e a insatisfação
Eu sou a anti-comparência, eu sou a abstenção"
De facto, cada vez mais me parece
que a voz da percentagem que a sondagem nunca mostra deve ser escutada com
enorme atenção.
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