A imprensa continua inundada pela
nauseante análise do debate entre Passos Coelho e António Costa centrando boa parte dessa análise em aspectos
acessórios e por referências à construção de muros e vedações como forma de
travar a entrada de refugiados na Europa.
São estranhos os movimentos da
história.
O ano passado a quase totalidade
da Europa comemorou os 25 anos da queda do Muro de Berlim. Em 2015 a quase
totalidade da Europa assiste sem grandes sobressaltos das suas lideranças à
proliferação da construção de muros e barreiras de arame farpado alimentando a
vida de terror e drama de muitos milhares de pessoas a viver num inferno que,
também, foi ateado pela incompetência de decisões políticas dessas mesmas
lideranças.
Talvez a relativa tranquilidade
com que se assiste à construção de muros e barreiras em diversos pontos acabe por não ser
estranha.
Eles vão sendo construídos nas
nossas vidas conduzindo no limite à construção de "condomínios de um homem só" rodeado de muros para que ninguém entre.
Estes muros são menos visíveis
mas não perdem eficácia.
Na verdade, existem muros que
transformam a vida de muitas crianças, jovens e adultos, sobretudo e como
sempre dos mais vulneráveis, numa permanente corrida de obstáculos em que são atropelados
alguns dos seus direitos.
Estes muros são constituídos, por
um lado, por constituído por dimensões mais tangíveis, falta de recursos
humanos e técnicos, barreiras físicas e acessibilidade, insuficiência de apoios
de natureza social, etc.
Por outro lado, boa parte deste
muro é constituído por dimensões de outra natureza, desvalorização dos
problemas das minorias, intolerância, o entendimento de que os direitos humanos
são de geometria variável e dependentes da conjuntura, ou seja, se existir mais
dinheiro, teremos mais direitos.
Muitas crianças, jovens e adultos
estão ou sentem-se excluídos ou “tolerados” num canto das suas comunidades e são
também eles refugiados de um quotidiano que os maltrata e é tantas vezes
insuportável.
As comunidades, mais do que a
mediocridade das suas lideranças, não podem deixar que estes muros se mantenham
e, mais grave, que se construam novos muros e barreiras.
Um dia, sem darmos conta, ao
querer olhar para o que está à nossa volta já não conseguimos, o muro com que
nos fecharam não o permite.
Aí talvez seja um pouco tarde.
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