No Observador encontra-se um
trabalho curioso sobre os “palavrões”, a sua história, o seu uso incluído por parte
das crianças.
Umas notas sobre esta coisa dos
palavrões para fugir à campanha tóxica que por aí se vai desenrolando.
A peça do jornal recordou-me uma
história cá de casa, já de há de alguns anos e que rapidamente se conta. Uma vez, depois de terminar umas
pinturas realizadas com marcadores com ponta de feltro, o meu filho, aí por
volta dos 5 anos, tentava tapar um dos marcadores mas a coisa não lhe estava a
correr bem e os dedos já estavam a ficar esborratados. Como reacção ouviu-se um
sonoro palavrão, daqueles mesmo a sério e que os adultos tentam explicar às
criancinhas “que é feio dizer”.
Pai empenhado na boa educação do
rebento, “peguei” no violino e em pianíssimo procurei explicar que aquelas
“palavras não se devem dizer”. O problema é que o gaiato olhou tranquilamente
para mim e devolve, “mas tu dizes a jogar à bola”.
Com o tempo acabou por aprender
como todos nós, quase todos, que as palavras, todas as palavras, podem ser
ditas, às vezes até sabe mesmo bem dizer algumas daquelas que libertam, vocês
sabem, não devem é ser ditas em todos os locais e em todas as circunstâncias.
É verdade que uma vez numa
conversa com professores em que eu perguntava se qualquer de nós em algum
contexto não dizia um palavrão, um dos professores presentes olhou para mim com
um ar tão perplexo quanto incomodado e assertivamente afirmou "Eu não,
nunca". Confesso que fiquei muito embaraçado, eu digo algumas vezes
palavrões, quando posso, e quando não posso ... penso cada um. Desculpem.
Servem estas histórias para
ilustrar a necessidade de que os processos educativos se centrem num princípio
estruturante, a autonomia, ideia que sistematicamente defendo. Os miúdos devem
ser solicitados a tomar conta de si dentro dos limites e regras que nos compete
estabelecer com clareza e consistência e das quais eles têm uma imprescindível
necessidade para crescer saudáveis.
Não se trata de uma educação para
a santidade onde tudo é perfeito e a transgressão proibida e culpabilizante,
mas de uma educação para valores em que os miúdos percebem as regras e os
limites e são capazes de mobilizar os comportamentos adequados aos contextos em
que se movem. Não nos comportamos num estádio de futebol como nos comportamos
ao assistir a uma aula, não nos comportamos num concerto de verão como no
cinema, etc., etc.
A questão é que os miúdos, muitos
miúdos, parecem crescer numa desregulação por ausência de limites e regras que
os deixa perdidos e sem referências, entrando frequentemente numa roda livre em
que tudo parece normal e permitido em qualquer contexto.
O problema é que com muitos de
nós, adultos, passa-se, basicamente, o mesmo.
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