terça-feira, 15 de setembro de 2015

AS CRIANÇAS E O TELEMÓVEL

No DN encontra-se um trabalho sobre o acesso das crianças ao telemóvel tentando responder à inevitável questão, “A partir de que idade esse acesso deve ser facultado?”
Em muitos encontros com pais também esta questão me é colocada recorrentemente. Recordo que uma mãe de uma criança de 4 anos que acabava de me interpelar acrescentava que a filha pedia insistentemente o telemóvel porque outros colegas da mesma idade também tinham.
Como em várias outras matérias, sair à noite por exemplo, não creio que exista a “idade certa” depende das circunstâncias de contexto, da maturidade individual, da justificação para a o uso do telemóvel, etc.
Parece razoavelmente claro que até aos 10 ou 12 anos a “necessidade” do telemóvel é mais dificilmente justificada.
No entanto, do meu ponto de vista, a questão é de outra natureza não decorre fundamentalmente da necessidade, decorre dos valores e cultura que se vão instalando. O telemóvel passou a ser um instrumento que TODA a gente tem e sem o qual, como vários outros bens, não se é Gente.
Neste quadro e sem surpresa os mais novos também querem ser Gente e, para isso, querem ter um telemóvel.
Deve ainda considerar-se que o comportamento de muitos pais, tempos significativos com o telemóvel ou outro dispositivo, induzem nas crianças, por um lado, a percepção que “aquilo” é para se ter, pai, mãe, toda a gente tem. Por outro lado, muitos adultos tendo o telemóvel sempre à mão entendem quase sem se dar conta que é um “brinquedo” que também pode ir para as mãos das crianças que, evidentemente, não o querem largar.
Sabemos também que o mercado, sempre o mercado, também percebe que os mais novos são um “target”, como se diz em publicidade, extremamente atractivo pelo que produzem telemóveis especialmente destinados às crianças que, naturalmente, usam todo o seu enorme e irresistível poder de persuasão e “charme” para convencer os pais a adquirir.
Como em tudo na vida das crianças são requeridos dois condimentos imprescindíveis, bom senso e regras.
Neste sentido, apesar da insistência das crianças importa que se resista ao ter (dar) tudo em qualquer altura. As crianças (muitos adultos também) precisam imprescindivelmente de saber que não se pode ter tudo, no minuto que se quer. Neste processo oferecer alternativas, “isto não mas isto sim” e não ceder pode ajudar as crianças a lidar com a óbvia frustração e, simultaneamente, a interiorizar que NÃO se pode ter tudo no tempo em que se deseja.
Depois, a partir do momento em que se acede ao telemóvel, momento que o bom senso dirá quando deve ser, importa a sua utilização com regras.
Muitas vezes aqui tenho referido que as regras, os limites, são bens de primeira necessidade para o desenvolvimento saudável das crianças. Assim sendo, também o uso do telemóvel, é disso que hoje estou a falar, deve ser realizado com regras claras e CUMPRIDAS.
A questão é que em muitas famílias, por diferentes razões que aqui já tenho escrito, nem sempre este processo de definição de regras e limites é o mais eficiente e coerente.
Não é bom para as crianças e para o seu desenvolvimento  como também não é bom para os pais.
Mas é o caminho, se for preciso com ajuda de educadores, professores e técnicos.

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