A publicação das listas de colocação de professores veio, sem surpresa, confirmar as expectativas dos docentes e as afirmações do Ministro, muitos professores ficaram por colocar. Para além das consequências graves de natureza pessoal que a situação de desemprego que muitos dos professores agora não colocados arriscam julgo oportunas algumas notas repescadas de um texto de há algumas semanas sobre este universo.
Em primeiro lugar, em qualquer circunstância e em particular devido às características do nosso sistema educativo, a questão do número de professores necessários ao funcionamento dos sistema é uma matéria bastante complexa.
Existem muitos professores deslocados de funções docentes, boa aparte em funções técnicas e administrativas que em muitos casos seriam dispensáveis pois fazem parte de estruturas do Ministério pesadas, burocráticas e ineficazes que, aliás, o ministro Nuno Crato achou que deveriam implodir. A ver vamos.
Por outro lado, os modelos de organização e funcionamento das escolas com uma série infindável de estruturas intermédias e com um excesso insuportável de burocratização retira muitas horas docentes ao trabalho dos professores que estão nas escolas.
Importa também não esquecer o enviesamento que por demissão da tutela se tem verificado na oferta relativa à formação de professores produzindo assimetrias donde decorrem a falta ou o excesso de recursos em diferentes áreas.
O processo em muitos casos justificado de enceramento de escolas e os insustentáveis (alguns) mega-agrupamentos tem também contribuído para a fazer decrescer os professores em funções pois, na maioria das vezes, assiste-se a um aumento de alunos por turma. Aliás o número de alunos por turma no 1º ciclo foi aumentado por decisão do MEC.
Finalmente e sem pretender ser exaustivo, também é de considerar a própria oscilação da demografia escolar, para além da pressão brutal para a redução de custos.
Este quadro promove, naturalmente, um problema de absorção de muitos docentes, já no sistema e que correm o risco de passar a horários zero, bem como na manutenção dos contratados ou ainda na entrada de novos docentes.
Face a este quadro considerar a hipótese de que e estando o MEC a estudar a situação, julgo que faria sentido que os recursos que já estão no sistema, não estou só a falar dos chamados horários zero, pelo menos esses, fossem aproveitados em trabalho de parceria pedagógica, que se permitisse a existência em escolas mais problemáticas de menos alunos por turma ou ainda que se utilizassem em dispositivos de apoio a alunos em dificuldades.
Os estudos e as boas práticas mostram que a presença de dois professores na sala de aula são um excelente contributo para o sucesso na aprendizagem e para a minimização de problemas de comportamento bem como se conhece o efeito do apoio precoce às dificuldades dos alunos.
Sendo exactamente estes os dois problemas que afectam os nossos alunos, na altura afirmei que talvez o investimento resultante da presença de dois docentes ou de mais apoios aos alunos e a outros professores, compense os custos posteriores com o insucesso, as medidas remediativas ou, no fim da linha, a exclusão, com todas as consequências conhecidas.
Creio que valia pena fazer contas e, como escrevi, nisso o Ministro Crato é especialista.