quinta-feira, 1 de abril de 2010

MERECEM NOVAS OPORTUNIDADES

O INE procedeu á divulgação de um conjunto de dados que, não sendo novos, suscitam alguma reflexão no seguimento do que há uns meses aqui tinha referido sobre esta matéria.
Os empregadores portugueses têm um nível de qualificação médio abaixo dos seus empregados. Parece estranho mas não surpreende quando escrutinamos com algum cuidado a realidade.
Por outro lado, as micro, pequenas e médias empresas representam cerca de 95% do tecido empresarial, sendo que as micro, de natureza familiar, pesam cerca de 80%. Este conjunto de empresas representa cerca de 80% do emprego no país. Também sabemos que os trabalhadores portugueses, apesar do esforço dos últimos anos, designadamente através de um equívoco chamado Novas Oportunidades, apresentam um dos níveis mais baixos de qualificação da União Europeia.
Este quadro ilustra uma das razões estruturais para as dificuldades portuguesas, sobretudo quando consideramos aspectos como, eficácia, modernização, investigação, mudança, produtividade que são obviamente essenciais nas sociedades modernas e envolvidas em movimentos de globalização. Os nossos empregadores, designadamente, nas micro, pequenas e médias empresas, as grandes responsáveis pelo emprego em Portugal, assumem-se, numa fórmula clássica, mais como patrões que como empresários. Conhecem-se aliás muitas histórias, algumas anedóticas, de resistência a oferecer emprego a pessoas mais qualificadas por receio dos efeitos negativos que possa ter na “firma”.
De facto, também na área dos empregadores, que tem sido menos referida, a qualificação é crucial e indispensável ao desenvolvimento.
No entanto, temo que, fundamentado nestes números, o Governo redireccione o programa Novas Oportunidades desencadeando um frenesim de certificação, que transforme em pouco tempo uma classe de patrões sem qualificação académica, nuns milhares de engenheiros e gestores de aviário com diploma entregue em mediáticas aparições.

1 comentário:

Joaquim Ferreira disse...

Totalmente de acordo com o texto. Partilhamos da preocupação quando afirma “temo que, fundamentado nestes números, o Governo redireccione o programa Novas Oportunidades (...) transforme em pouco tempo uma classe de patrões sem qualificação académica, nuns milhares de engenheiros e gestores de aviário com diploma entregue em mediáticas aparições.”
E também é verdade que os trabalhadores portugueses apresentam um dos níveis mais baixos de qualificação da União Europeia. Mas não deixam de ser dos mais “queridos” pelos empresários europeus quando comparados com emigrantes (ali, imigrantes) de outras originários de outros países. Por que será?
É claro que o esforço dos últimos anos através de um equívoco chamado Novas Oportunidades não qualificou ninguém. Apenas certificou um percurso de vida. Pouco ou nada acrescentrou aos trabalhadores portugueses enãoi uma maior auto-estima. Por isso a produtividade continua pelas ruas da amargura europeia. Ora, se emigram e são “produtivos”, o mal não pode estar nem na certificação de competências nem na falta de capacidade produtiva dos trabalhadores.
O povo português não só é empreendedor como muito trabalhador. O mal está numa mentalidade dos políticos que nos governam e de empresários que colocam à cabeça dos seus objectivos alcançar benefícios fiscais (empregando jovens que lançam depois na rua!), a fuga ao fisco, a compra de um bruto carro e... uma casa na praia para si, para os seus, e se possível, para os caciques... É nos empresários e nos políticos que reside o mal português...
Desafio-vos a visitar um escrito de longa data Novas Pedagogias ou Novas “correntes” da Educação ?. Bem-vindos