Apesar do optimismo com que a Ministra da Educação encara o futuro próximo e o cumprimento de metas hoje noticiado, creio que apenas o estabelecimento de um programa de política educatica de natureza não partidarizada o sustentaria. Só que não vejo disponibilidade nos interessados em abdicar dos interesses da partidocracia em prol de um desígnio mobilizador direccionado de forma séria para a qualidade na educação. O que tem vindo a acontecer nos últimos tempos não permite, eu bem queria, ser optimista. Em termos necessariamente breves, vejamos alguns aspectos retomando algumas notas que há dias aqui deixei.
Do meu ponto de vista temos vindo a cumprir o que chamo de percurso de implosão da escola. A turbulência sentida com a equipa anterior do ME parece ter acalmado em termos formais, no entanto a escola continua doente, muito doente. Se inquirirmos alunos, professores, pais ou outros grupos próximos à educação sobre o seu sentimento face à escola, será provável que as respostas não sejam muito positivas. Dá-se a situação estranha de termos um universo tão importante como a educação em que os que lá habitam parecem não gostar do que têm. É frequente que todos culpem todos pelos males que afligem a escola criando dimensões de conflitualidade de evolução imprevisível.
Se repararmos nos discursos elaborados sobre os professores, pode constatar-se que ao mesmo tempo que se clama por uma autoridade que parecem ter perdido, se produzem afirmações e juízos que diminuem e comprometem seriamente a imagem social dos professores o que, obviamente, mina a sua autoridade.
A politização partidária da educação tem dado um fortíssimo contributo para a degradação do olhar produzido sobre a escola. Esta partidarização informa grande parte dos discursos políticos mas, também, grande parte dos discursos dos representantes dos professores. Tal situação, impossibilita a emergência de um desígnio que fornecesse uma energia propulsora de mudança que conjugasse diferentes esforços. Lembro-me como uma expressão, "No child left behind", pode, só por si, configurar um programa político impossível de imaginar entre nós.
Na imprensa multiplicam-se os discursos, mais ou menos informados, mais ou menos ignorantes, mais ou menos influenciados por agendas ocultas que fragilizam a percepção da escola.
As políticas educativas por incompetência e arrogância criaram uma perturbação no clima das escolas que a metodologia avulsa e reactiva, obedecendo ao incidente da agenda, da actual equipa não atenua significativamente até porque as mudanças anunciadas parecem mais acessórias ainda que positivas, algumas, do que essenciais. A tentação dos resultados que componham as estatísticas é maior que o compromisso com o rigor e a qualidade.
A preocupação sobre a escola, deixou, por boas e más razões de estar centrada nos alunos e na qualidade dos seu trabalho para estar centrada no trabalho do professor e nos seus problemas profissionais o que sendo obviamente importante não pode hipotecar a centralidade da escola.
A minha grande inquietação é que este trajecto que, por vezes me parece assustadoramente inconsciente, corre o sério risco de estar a promover de forma lenta a implosão da escola pública.
Não seria melhor arrepiar caminho?
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