O Público de hoje apresenta um trabalho sobre o afastamento que progressivamente se tem vindo a instalar entre os mais novos e a vida política.
Em primeiro lugar, deve registar-se que este afastamento não envolve apenas os mais novos. As taxas crescentes de abstenção são um bom exemplo de que tal fenómeno não é um exclusivo da juventude. Na peça jornalística abordam-se algumas das eventuais causas mas, do meu ponto de vista, não se toca na questão essencial, a praxis política da partidocracia instalada.
No actual quadro político administrativo é muito difícil a intervenção cívica, no sentido político, fora da tutela dos aparelhos partidários. Verifica-se também que a capacidade de mobilização dos partidos se dirige a uma minoria de pessoas que emerge dos respectivos aparelhos que, assim, podem aceder a alguma forma de poder e a uma maioria que enche autocarros, recebe uns brindes e tem um almocinho de borla. A partidocracia não atrai porque os partidos se tornam donos da consciência política das pessoas, veja-se o espectáculo deprimente da Assembleia da República, vota-se o que o partido manda, independentemente da consciência.
Reconhece-se hoje que as camadas mais novas, sobretudo mas não só, atravessam uma complexa situação envolvendo os valores, a confiança nos projectos de vida, os estilos de vida, etc. Neste quadro, a adesão à intervenção política, tal como se verifica genericamente em Portugal, parece mais uma parte do problema, é velha a partidocracia para responder a problemas novos, que um caminho para a solução.
De tudo isto resulta, como muitas vezes refiro, o afastamento das pessoas pelo que a construção de outras formas de participação cívica parece ser a única forma possível de reformar o quadro político que temos, ou seja, os partidos ou definham ou mudam, pela pressão do exterior.
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