Como aqueles que mais habitualmente por aqui passam têm reparado, só muito raramente abordo algo que não tenha directamente a ver connosco, portugueses. Hoje não posso deixar de reflectir sobre uma realidade que nos está bem próxima o desemprego, mas a partir de uma situação relatada no DN. Uma jovem inglesa de 21 anos suicidou-se depois de dois anos de busca de emprego e de cerca de 200 recusas. Segundo bilhetes de despedida a familiares referiu, após nova recusa, não ser mais capaz de suportar a humilhação de não merecer uma oportunidade de emprego.
São conhecidos casos de suicídio de pessoas, mais velhas, afectadas por desemprego e pelas devastadoras implicações que daí podem decorrer, mas esta situação em jovens é menos frequente embora o grupo dos que procuram o primeiro emprego sejam um grupo particularmente afectado pelas dificuldades.
Como sempre, pode alegar-se a dificuldade do estabelecimento de nexo causal, apesar das afirmações da jovem, e a sua eventual fragilidade psicológica. No entanto, muitas vezes aqui o tenho referido, encontrar e manter trabalho representa para a maioria das pessoas um pilar fundamental da sua dignidade e do sustento da sua integridade. Uma vez escrevi que alguém a quem roubam o emprego, roubam a dignidade.
Deste ponto de vista, por vezes, não basta um apoio económico que muitos, sobretudo os que procuram o primeiro emprego, nem sequer têm.
No âmbito das políticas sociais, que muitos contestam, as pessoas precisam mais do alguns euros, poucos ou muitos, precisam de se sentir pessoas, de se sentir íntegras, de não ver a sua dignidade ameaçada.
Não nos podemos esquecer disto sem pagar um preço elevado. Pode acontecer à nossa beira.
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