domingo, 4 de abril de 2010

O INGLÊS NO 1º CICLO

Um inquérito, de que não conheço os pormenores, realizado pelo Observatório dos Recursos Educativos e hoje referido pelo DN providencia alguns dados interessantes sobre uma matéria que passa frequentemente pelo Atenta Inquietude, as Actividades de Enriquecimento Curricular no 1º ciclo do Ensino Básico.
O inquérito realizado a professores de inglês do 5º ano refere que, na sua grande maioria, os inquiridos acham positivo o ensino do inglês no 1º ciclo, 63% afirmam as crianças mais motivadas e 70% dizem que promove nas crianças competências interculturais. Como maiores fragilidades identificam as assimetrias que decorrem da não obrigatoriedade de frequência e o trabalho desenvolvido que, frequentemente, não tem qualidade e é realizado em condições precárias. Parece ainda interessante que 82% afirmem que nada se alterou nas escolas de 2º ciclo decorrente da oferta de inglês no 1º e que 80% defendam que os manuais deveriam ser revistos e adaptados a essa realidade.
Estes dados evidenciam, do meu ponto de vista, alguns equívocos no âmbito das Actividades de Enriquecimento Curricular. A oferta do inglês no 1º ciclo que radica no Plano de Generalização do Ensino do Inglês, não parece estranha, antes pelo contrário, creio que é consensual. Assim, não se entende que o inglês se mantenha no âmbito do "enriquecimento curricular", facultativo, que, em muitos estabelecimentos, é pouco mais que um mau espaço de ocupação de tempos livres para cumprir uma enormidade chamada escola a tempo inteiro, meninos mais de dez horas por dia dentro da escola. Acresce que, se o princípio é disponibilizar oferta educativa curricular universal, a responsabilidade deveria ser da escola, tal como as outras áreas curriculares, que não dependem das autarquias ou de outras estruturas. Aliás, nos currículos em vigor até constam as outras actividades que se consideram de "enriquecimento", actividades expressivas. Não tendo sido alterados os currículos não é claro porque é que o que está no currículo é dado fora do currículo e sem a responsabilidade da escola.
Este quadro sustenta alguma das fragilidades referidas no inquérito, falta de formação adequada, precariedade da condições, desarticulação entre o que se faz nas escolas do1º ciclo e o que se realiza no 5ºano, etc.
O equívoco decorrente de confundir educação a tempo inteiro com escola a tempo inteiro tem destas consequências.

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